🔥Estará o mercado financeiro no segundo antes de uma grande mudança?
Blockchain e inteligencia artificial entraram na fase exponencial?
Os últimos anos não há como negar que a velocidade com que tecnologias tem sido incorporadas ao mercado financeiro está imensa. De algoritmos de trade que utilizam machine learning a Chats automatizados para atender clientes que utilizaram sistemas de inteligência artificial para serem treinados, tudo hoje no mercado financeiro tem alguma forma de automação, mas a pergunta que sempre fica é: quando a chave vai virar? Quando aquela mudança que muda tudo virá? Conseguiremos definir esse momento?
Nos últimos meses alguns temas têm ficado muito quentes em relação a novas tecnologias que podem mudar muito o mercado financeiro, a começar pelo tema tokenização, que vem galgando novos patamares a cada dia. Esse tema envolve não somente a tokenização de ativos reais, ou seja, sua representatividade dentro do mundo de Blockchain ou DLT, mas também a tokenização da moeda. Inúmeras discussões e iniciativas sobre CBDC, e no caso do Brasil, sobre o Real Digital, estão se intensificando no mundo.
Uma outra tecnologia que vem correndo em paralelo é inteligência artificial, que até a divulgação do ChatGPT se limitava a alguns círculos especializados, mas que agora está em todo lugar. Inclusive a própria bloomberg lançou recentemente o BloombergGPT, um sistema de inteligência artificial feito especialmente para o mercado financeiro.
Tendo já alguns cabelos brancos consigo observar essas mudanças com a perspectiva do tempo e aí que as coisas ficam mais impressionantes. Há não mais do que 30 anos atrás uma transferência entre uma cidade do interior de Goiás, onde eu morava, e São Paulo chegava a demorar 2, 3 ou 5 dias para que o dinheiro enviado de uma agência do mesmo banco pudesse ser sacado em São Paulo. Hoje fazemos o mesmo (e entre bancos diferentes) em um piscar de olhos via o PIX e mais, conseguimos via cripto fazer essa mesma transferência em segundos entre o Brasil e a China.
Os últimos 30 anos, para manter o período acima, foram de uma imensa transformação do mercado financeiro em todo e qualquer aspecto que se possa observar. Não se usa mais terno em quase nenhum banco. Agências bancárias, as poucas que sobraram, viraram balcões de negócio e muitas estão às moscas. Seu gerente, que as vezes é um algoritmo, te contacta via WhatsApp. A quantidade de coisas físicas, dinheiro em papel, notas de crédito em papel, títulos em papel, processos de empréstimo com assinaturas físicas, entre inúmeros outros estão em queda vertiginosa. A eficiência por funcionário (no. de funcionários dividido por produtos, canais de distribuição ou qualquer outro que queira pegar) está escalando em números nunca antes vistos.
Um dos principais motores dessa aceleração foi um mindset muito específico que foi implementado na indústria financeira via as Fintechs. Elas vieram com o conceito de MVP (minimum viable product – produto mínimo viável), onde lançavam um produto ou serviço que não estava 100% testado e, através de um mecanismo de trocas entre os usuários iniciais (feedback loop), verificava os problemas e oportunidades e ia se ajustando com o passar do tempo. Esse tipo de pensamento só foi possível dada a quantidade de inovação e serviços de SaS (software as a service – software pago pelo uso) que google e companhia disponibilizaram. De todos esses serviços, a capacidade de armazenamento e processamento em nuvem talvez tenha sido o mais disruptivo de todos.
Bem, esse mindset fez com que a inovação no mercado financeiro fosse mais aberta e que todos os “bancões” tivessem que se adaptar para manter o ritmo e não ficarem para trás.
Essa, acredito ter sido a primeira fase de inovação no mercado financeiro. Hoje esse mindset já está instalado em todo lugar. Para pegar um exemplo, podemos ver isso nos discursos do próprio Banco Central do Brasil (BCB) que vem a público discutir os detalhes do piloto do Real Digital. Essa construção com a sociedade, em grupo, traz um produto final muito melhor para todos e ajustes são feitos durante o caminho. Não preciso dizer que cada MVP tem aspectos que tem que ser muito testados antes de vir a público, mas não 100% de todos aspectos e cenários tem que estar cobertos no momento zero.
A fase que estamos entrando agora, ou que já entramos, é uma fase em que tudo vai (está) mudando em uma velocidade muito maior do que conseguimos acompanhar. A sensação de perda de controle, que já existe, só se intensificará e temos, como humanos, que saber lidar com isso.
Figurativamente é como se a primeira fase fosse a fase de trocar a câmera fotográfica da Kodak, que utilizava filmes de rolo para uma câmera digital, e a segunda fase é a não necessidade de se ter mais câmera para tirar foto, pois o celular já faz isso. Ou, tentando pegar um exemplo mais recente, como se saíssemos de um sistema baseado em pagamentos em papel moeda para um sistema com pagamentos via cartão de crédito (fase 1), para um sistema onde você paga tudo por reconhecimento facial.
Uma coisa importante nessas mudanças é o fato de que o usuário não precisa necessariamente saber as novas tecnologias que está usando. IP, inteligência artificial, blockchain etc. Tirando alguns entusiastas e pessoas intimamente ligadas ao seu desenvolvimento, isso pouco importa. O que as pessoas comuns querem é facilidade. Algo que as ajude no seu empréstimo bancário, ou seus investimentos. O que está por trás pouco importa. O importante mesmo é o que chamamos de UX (experiencia do usuário). E esse aspecto está cada vez mais fácil e acessível para todos.
Vejo toda discussão de Blockchain e Inteligência artificial acelerando e tomando de assalto o mercado financeiro. Tudo em breve usará essas tecnologias e isso facilitará imensamente nossas vidas, criará novos modelos de negócios, deixará o mundo mais plano, e por aí vai.
Voltando a pergunta que me fiz no início desse texto, minha visão é de que estamos no momento antes de uma grande transformação. Quem já testou ou ChatGPT para algo, viu o midjourney transformar suas palavras em uma imagem incrível, está a par das discussões de Blockchain sobre Account Abstraction ou Zero Knowledge que me diga se não concorda comigo.
As dúvidas que tenho, e que acredito só conseguiremos respondê-las ex-post são muitas. Mas, tal qual no exemplo do MVP, colocá-las agora é fundamental para podermos influenciar isso de alguma forma. Dentre essas dúvidas consigo destacar: O acesso a soluções financeiras será mais global e inclusivo? O mundo será melhor para todos ou somente para uma minoria? Teremos mais tempo ou seremos “forçados” a ser mais produtivos para sobreviver? Seremos mais felizes?
Deixo todos com essas dúvidas na esperança de que essa reflexão sirva para discutirmos e colocarmos em prática um mercado financeiro, e porque não dizer um mundo, muito melhor para todos.
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* Texto publicado originalmente na minha coluna da infomoney em 19.abr.2023
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