Como mentor, investidor e construtor da Fintrender, uma das minhas grandes preocupações é a imagem que as marcas transmitem ao consumidor. Isso vai muito além de nome ou propósito — envolve comunicação visual, postagens e muito mais. Recentemente, ao refletir sobre esse tema, me deparei com uma questão que se aplica ao debate sobre as CBDCs.
Bem, CBDC vem de Moeda Digital do Banco Central, ou em inglês, Central Bank Digital Currency, e, por si só, não deveria ser um nome para causar nenhuma polemica. Hoje usamos o dinheiro do governo em tudo que é físico, apesar de cada vez usarmos menos esse tipo de dinheiro, o dinheiro em papel. No campo digital usamos o dinheiro digital que é emitido pelos bancos nas inúmeras formas de pagamento que temos. Apesar de ser emitido pelos bancos, via movimentação de saldos nas nossas contas, esse dinheiro é regulado e organizado pelo Banco Central que através das reservas bancárias e regras de basileia determina o percentual de alavancagem de cada banco. Complicou, ne? Espera aí que vou explicar.
Todos os bancos possuem uma conta de reservas no Banco Central. A partir desses depósitos, eles podem alavancar e emprestar quantias muito superiores ao valor que têm em reserva. Funciona assim: se um banco tem R$100 depositados no Banco Central, ele pode, com base nesse valor, emprestar até R$900. Esse mecanismo é chamado de sistema de reservas fracionárias.
Embora muitas pessoas acreditem que o dinheiro que usamos no formato digital vem diretamente do Banco Central, na realidade, a maior parte dele é criada pelos próprios bancos comerciais através desse processo de alavancagem.
Para evitar que o sistema colapse, há diversos mecanismos de controle. Contudo, em situações extremas, como uma crise financeira, um banco pode quebrar, e os clientes que têm dinheiro investido ou depositado podem perder tudo. Isso ilustra o risco da alavancagem: o banco capta R$900 no mercado — por exemplo, emitindo CDBs — deposita R$100 no Banco Central, e utiliza o restante para conceder empréstimos, criando assim o dinheiro que usamos no dia a dia.
Dito isso, onde entra a CBDC? E aí temos alguns modelos e vou focar no que o Brasil está desenvolvendo, o DREX.
No caso do DREX as reservas bancárias continuam existindo, mas agora na forma de um token representado nessa rede, o Drex de atacado. Um token que somente circulará entre o Banco Central e os bancos autorizados. Na ponta do mercado em geral, nós, haverá a emissão pelos bancos do Drex de varejo, que será um token emitido pelos bancos e lastreado em depósitos bancários. A grande diferença do sistema atual é que estaremos em uma nova infraestrutura baseada em Blockchain/DLT e nessa infraestrutura o dinheiro é representado por tokens e podemos associar a ele smart contracts que tornarão esse dinheiro programável.
E aí começa a confusão. 😯
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Um exemplo prático, que a China já está testando em larga escala — embora o modelo seja diferente do Drex —, é a possibilidade de limitar onde e por quanto tempo o dinheiro pode ser gasto. Funciona como um vale-refeição com prazo de validade, aceito apenas em determinados estabelecimentos. Algo que já conhecemos, certo? A diferença é que, nesse caso, essas restrições seriam implementadas no ambiente digital e controladas pelos bancos, sob regulamentação e diretrizes do Banco Central.
Libertários do mundo crypto acham isso o fim do mundo. Será que eles nunca usaram vale alimentação? E vou além, um outro exemplo vem da necessidade de usar o ticket recebido somente em um determinado prazo senão ele expira. Dinheiro com prazo de vencimento, isso é uma novidade? Quem aqui já foi em festa junina e teve que trocar reais por um papel de “dinheiro” para usar somente naquele ambiente. Acabou a festa junina ou você troca de novo por reais quando permitem ou já era. E as milhas de companhias aéreas que também vencem? São “dinheiro” para ser gasto naquele ambiente por um prazo determinado.
E quem aqui nunca usou vale-refeição com data de expiração? Ou precisou gastar milhas aéreas antes que expirassem? Dinheiro com prazo de validade já faz parte da nossa vida há muito tempo, e não causou revolução.
Agora, dito tudo isso, eu nunca consegui ter uma conversa sem preconceitos e racional com ninguém sobre isso. E aí vem a questão a imagem. Colou em CBDCs que ela será usada para o mal ou é maléfica mesmo de um jeito que os argumentos contrários aqui são sempre jogados ao vento e pouco ouvidos. Ao sinal de qualquer coisa que exemplifique esse pré-conceito isso se propaga como fogo morro acima. Viés de confirmação chama-se isso no mundo dos vieses comportamentais e aqui se mostra claramente presente.
Um dos exemplos que eu sempre deixo jogado no vento ☺️, e que poucos escutam, é que não é a CBDC ou a tecnologia que é maléfica e sim o seu uso. A Zelia Cardoso de Mello confiscou o dinheiro de todo mundo no Brasil no início da década de 90 e lá não havia nem princípio de discussões sobre CBDCs. Fez isso à luz do dia e na frente de todos.
Outro exemplo, vindo de outra área, é o desenvolvimento da energia nuclear. Essa tecnologia nos deu tanto uma fonte de energia eficiente, que usamos e precisaremos cada vez mais, quanto a bomba atômica. Um parêntese aqui para destacar o crescente consumo de energia impulsionado pela inteligência artificial, que está levando muitos países a reconsiderar a energia nuclear por sua eficiência e segurança. Vale lembrar que os incidentes recentes ocorreram em usinas construídas há mais de 30 anos, e não preciso convencer ninguém aqui que os últimos 30 anos foram de um crescimento exponencial de todas tecnologias e aqui não é diferente.
Da mesma forma que a energia nuclear pode iluminar cidades ou destruir nações, a CBDC pode trazer benefícios ou ser usada para o mal, dependendo de como for implementada. A verdadeira questão é para que serão utilizadas.
Esses dois exemplos deixam claro que o problema não está na tecnologia em si, mas na forma como ela é implementada e por quem. No caso das CBDCs, a resistência e a desconfiança não surgem da tecnologia em si, mas da relação das pessoas com os governos. Hoje, é difícil encontrar alguém satisfeito com o governo em qualquer lugar do mundo, e é essa insatisfação que alimenta o receio em torno das CBDCs.
Por outro lado, vejo enormes vantagens das CBDCs se usadas para o bem. Melhora em muito a eficiência do mercado financeiro, baixando os custos desse para a sociedade, trazendo mais transparência e consequentemente menos spreads e resultados opacos, aumenta a competição e muito mais. Mas essa discussão ninguém quer ouvir. Só a parte de que o governo é mal e certamente utilizará essa tecnologia para nos controlar ainda mais.
Um último ponto que queria deixar é que não se tem a mesma percepção sobre inteligência artificial (AI). Quanto tempo vocês acham que os governos vão demorar para usar essa tecnologia em massa? Acha que ainda não começaram? Bem, aqui o estrago, caso apliquemos a mesma ideia de uso para o mal pelo governo, vejo como tendo um impacto muito, mas muito, maior do que no caso das CBDCs.
Mas AI implementada por governo não tem nome nem iniciativa, ne? Não tem um termo para fazermos “hate”. No caso do uso de blockchain para o dinheiro do governo temos, CBDC! Talvez o simples fato de termos um nome específico gere isso, mas também tem uma questão de ter deixado esse termo sem um marketing apropriado e daí colou o discurso de controle e cerceador de liberdade nele como chiclete.
O avanço das CBDCs parece inevitável. E quanto mais cedo abrirmos a discussão de forma racional e sem preconceitos, mais poderemos moldar essa tecnologia para o bem.
Estou sempre aberto para debater o tema, mas é importante lembrar: o problema não é a tecnologia, mas o uso que se faz dela
😉
Abcs,
Gustavo Cunha
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