Dinheiro, talvez a melhor expressão de sucesso que tenhamos na cabeça desde que somos pequenos. Aquela mansão! Aquele carro! Aquele relógio! Aquela bolsa! Quem nunca teve a vontade de ter esses itens que atire a primeira pedra. Mas, e sempre tem um mas, é obter coisas o que nos deixará completos? felizes? Ou ao chegar lá criaremos outro item que almejamos? Isso tem fim? Do outro lado, qual o mínimo de conforto financeiro que necessitamos? Vamos a mais essa reflexão!
Sempre que abordo esse assunto me lembro de uma das primeiras aulas na graduação de administração de empresas que fiz. A professora começou a aula contando a parodia do empresário e do pescador.
Ela se desenvolve quando os dois estão à beira de um riacho pescando. O pescador fazia isso há anos e essa era a forma de dar sustento a sua família. O empresário após uma longa carreira de sucesso em várias empresas, finalmente tinha conseguido comprar a fazenda que tinha esse riacho como divisa e onde, na outra margem, ficava a casinha simples do pescador. Intrigado com a vida pacata do pescador, o empresário começa a perguntar-lhe se ele não tinha vontade de trabalhar mais, de viajar, de empreender etc. E o pescador sempre a replicar com “porque?”, “para que?”. E o empresário vai explicando: para conhecer mais coisas, para poder discutir com os amigos com propriedade, para ganhar dinheiro, para ter sucesso e no fim conseguir comprar uma fazenda para poder desfrutar. Aí o pescador o interrompe e pergunta: por que tenho que fazer todo esse caminho se eu já tenho o que você almeja?
Lembro-me como se fosse hoje as palavras da professora: se alguém aqui pensa igual ao pescador, está no lugar errado! Essa frase me marcou naquele momento, mas confesso que passou batido, e hoje, mais de 30 anos após isso, eu tenho alguns pontos sobre ela que talvez não tivesse naquele momento.
O primeiro é que ela embute uma filosofia de vida muito “americanizada”, tal qual vejo a forma como a sociedade brasileira se comporta. Temos que ter sucesso, sempre estar atras de algo a mais, sonhar grande, dobrar a meta. Figuras como o pescador são vistos como fracassados, pessoas sem ambição e que tem pouco a agregar em conversas e para a sociedade de modo geral. Por outro lado, essa ambição desenfreada e frustações inerentes ao processo acabam levando muitas pessoas a um nível de stress pouquíssimo saudável e que traz consequências no longo prazo.
Um outro ponto importante sobre isso é que a relação entre sucesso, dinheiro e felicidade não é exatamente direta. Casos clássicos de milionários que se veem reféns do que estão fazendo, sem conseguir aproveitar o dinheiro e poder que tem, mostram isso.
Outro ponto é a definição de sucesso. Tendo eu feito essa pergunta a inúmeros empreendedores durante as mais de 200 entrevistas que já fiz, está claro que essa é uma questão muito particular e individualizada.
O confronto com culturas não tão “americanizadas”, tal qual a cultura europeia, é importante nessa trajetória. Na Europa, por exemplo, é relativamente comum alguns restaurantes de cidades turísticas fecharem as portas durante uma parte do verão para os donos e funcionários aproveitarem as férias com suas famílias. Isso em uma época em que a demanda é brutal. Coisa inconcebível de se fazer no Brasil ou nos EUA. Parece um absurdo do ponto de vista econômico, e não tenho como discordar de que é mesmo, mas ao mesmo tempo, na Europa o balanceamento entre trabalho e vida pessoal/família é mais equilibrado. Hoje, com mais experiencia e na fase de vida que estou, entendo e até me adapto a isso, mas se me perguntassem há alguns anos acharia um absurdo.
Alguns fatores são importantes nessa diferença e tem a ver com o que chamamos de wellfare state, ou seja, o que o Estado provê à população, que no caso europeu é bem melhor do que no caso dos EUA. Isso torna a economia americana mais dinâmica e de ajustes mais rápidos, sem dúvida! Mas traz mais felicidade e sustentabilidade de longo prazo?
Esse fator do Estado na Europa é um alicerce primordial para se responder à pergunta que me fiz no início desse texto. O que é conforto financeiro e quais os fatores que o afetam. O que o Estado te provê certamente é um fator importante nessa equação. Um Estado que disponibilize um sistema de saúde e educação amplo e irrestrito à população, além de um sistema de aposentadoria que garanta a longevidade financeira das pessoas, tira a necessidade de a população economizar para isso e, portanto, ter que buscar ganhar mais. Esses Estados são sustentáveis a longo prazo? Humm, tenho dúvidas! A população vivendo cada vez mais, as taxas de natalidade baixas, e o crescimento das dívidas desses países nos últimos anos colocam um desafio enorme a isso. Mas a verdade é que temos isso hoje e todos que vivem em Estados assim se beneficiam disso.
Se o Estado e o que ele provê é um fator importante, e externo à pessoa, há um outro fator interno que afeta e muito essa conta. A personalidade da pessoa. Não sou psicólogo e talvez não use os termos corretos aqui, mas que existem pessoas com perfis de risco e ambição diferentes não tenho dúvidas. E aqui não tem certo ou errado. Cada um que se ajuste e seja feliz de acordo com o que acha e quer. Tem pessoas que pensam e agem como o pescador do início desse texto e outras como o empresário, e vários tons de cinza pelo caminho.
Essa parte psicológica é um fator que afeta muito no que tange ao conforto financeiro. Conheço pessoas que tem uma reserva financeira considerável, diria para poder ficar ao menos 5 anos, sem nenhuma entrada de dinheiro e que continuaria a ter o mesmo padrão de vida de hoje e que estão sempre incomodadas com essa situação e outras que não tem reservas para parar por mais de 2 meses e que estão superconfortáveis com isso.
Sobre esse ponto ressalto a questão do padrão de vida. Poder ter a flexibilidade, saúde e intenção, para ajustá-lo durante a vida ajuda e muito essa questão de conforto financeiro. Isso vale para baixo, quando quem tem barco e casa de campo precisa vender para ajustar as contas, e também na decisão de comprar bens de consumo como carros, barco, etc. Fazer decisões conscientes e ter a coragem e flexibilidade para dar o passo atras quando necessário sem grandes traumas psicológicos ajuda e muito.
Um ponto que acabou implícito em todo o texto é o fator idade. Em uma LIVE recente que fiz mencionei que quem tem menos de 25 anos hoje, tem alguma reserva e não tem um pedaço considerável dela em um ativo de altíssima volatilidade está errando. A flexibilidade e capacidade de se reconstruir, agregado ao menor custo fixo (família, filhos, casa), deve refletir em uma carteira de investimento de maior risco. No caso em questão era sobre o mercado Crypto, mas você pode entender isso como o mercado de ações, também. Foi isso que fiz quando tinha 25 anos? Não. E hoje considero isso um grande erro.
Minha impressão é que conforto financeiro demais, ou seja, ter dinheiro para mais de uma geração já garantido, traz problemas e discussões que, não consigo igualar ao outro extremo, de ter que vender o almoço para pagar o jantar, mas que pode também não ser saudável. As inúmeras discussões sobre sucessão que o digam.
Por fim, qual o conforto financeiro que queremos ter é uma pergunta que não consigo responder por você. E diria que até por mim não tenho um número determinado. Quantos anos consigo manter o padrão de vida da minha família se não tiver receita nenhuma? Como ajustar isso à ambição e necessidade dos filhos? Estarei hoje eu pensando como o pescador, mas sendo o empresário ao lado dele?
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Parabéns Gustavo pelo texto. Pergunta difícil de responder. Estou buscando a resposta desde que completei 50 anos e passei a ter direito de me aposentar pelo plano de aposentadoria da empresa em que trabalho. Me programei para esse dia investindo em imóveis, ações etc. Mas na hora H fiquei na dúvida se já tenho o suficiente, se o valor recebido como aposentadoria vai ser suficiente (vou passar a receber 1/4 do salário da ativa). Já fiz essa conta várias vezes, ela fecha, mas dá um frio na bariga. Com certeza será a decisão mais difícil que vou tomar.
Abs
Valéria