🏃🏻♂️Corrida pela tokenização da moeda está em pleno curso
Sendo tokenização o futuro do mercado financeiro, a moeda será o seu principal token
Desde que em 2019 o Facebook, hoje Meta, anunciou sua iniciativa para desenvolver sua stablecoin, a Libra, que todos os olhos do mundo do mercado financeiro tradicional se voltaram para o tema da tokenização da moeda. Inicialmente esse nem foi o nome que usaram e ainda há muita confusão quando vamos para taxonomia e algumas siglas e definições. Não precisa ir longe para notar isso, quem acompanhou as declarações de envolvidos na iniciativa do DREX no Blockchain Rio da semana passada conseguiu perceber isso claramente.
Mas aqui quero ir mais para o nível da floresta do que da arvore. Alguns ganhos da tokenização da moeda, e posso dizer de ativos de modo geral, estão praticamente consolidados no mercado. Entre eles eu destacaria a facilidade para se automatizar processos, divisibilidade, disponibilidade (24/7), transparência e auditoria das transações. Todos ganhos que podem ser ainda maximizados pela criação de um ambiente propenso a inovação que essa tokenização traz.
Muitos desses ganhos são inspirados em casos de usos que já são amplamente utilizados e testados no ambiente de DEFI. DEFI, por ser um ambiente não permissionário e fora do controle dos governos ajuda e muito a que inovações sejam feitas e no meu ver mostram o caminho. À medida que seus testes vão se consolidando e demonstrando que podemos ter os mesmos caso de uso que temos hoje no mercado financeiro tradicional (tradfi) endereçados de maneira muito mais eficiente e trazendo os ganhos colocados acima. E aqui nem estou falando de inovações em DEFI que tragam soluções muito melhores do que tradfi e que só podem ser implementadas em blockchains ou DLTs.
Me parece questão de tempo para o mercado financeiro tradicional incorporar muitas dessas inovações que DEFI trouxe. E isso já me parece ser um ponto comum em grande parte das discussões. Não há ente do mercado financeiro tradicional com quem eu tenha falado nos últimos seis meses que não entre no tema de tokenização. De iniciativas de stablecoins, a Bancos Centrais e suas CBDCs, passando por iniciativas focadas em auxiliar casos de uso como remessas internacionais, tudo e todos só falam sobre a tokenização e seus efeitos.
E no centro dessa discussão está o principal token desse novo ecossistema, o representativo da moeda que usamos. Por moeda que usamos, entendam aqui as moedas fiduciárias, Real, Dólar, Euro, Rembini e por aí vai. São moedas emitidas por Bancos Centrais e que, tirando um ou outro ermitão que viva isolado, todos tem que conviver e utilizá-las recorrentemente em todas as interações que faça. Presenciais ou digitais. Aqui vale a constatação, e a palavra é essa mesma, de que a moeda que utilizamos hoje já está devidamente digitalizada em vários formatos, e próximo passo agora é sua tokenização.
Entendo tokenização como um token que trafegue em uma rede de Blockchain ou DLT. Isso é importante definir pois o termo token vem de bem antes dessas tecnologias e muitos o utilizam simplesmente como sendo a representação digital de alguma coisa. Não é disso que estou falando. Token no conceito que uso aqui é uma representação desse ativo em uma rede de Blockchain ou DLT.
Essa tokenização da moeda responde em geral por dois nomes: stablecoins ou CBDCS. A diferença entre ambas do ponto de tecnologia é pequena, mas do ponto de vista do seu emissor é enorme. Stablecoins são tokens representativos de moedas fiduciárias em uma Blockchain ou DLT. Há várias formas e modelos para se garantir que essas stablecoins tenham, ou busquem, a paridade com o ativo que elas representam, sendo o mais comum o de terem 100% em colateral esse ativo. USDT, USDC e várias outras seguem esse caminho. A operacionalização desse mecanismo de ter 100% de lastro para cada token emitido é feita por uma empresa privada.
No caso de uma CBDC, essa emissão do token representativo da moeda é feita pelo próprio Banco Central (BC). Como os BCs tem a autonomia de emitir a própria moeda, isso já torna a CBDC melhor do que qualquer stablecoin lastreada que, para além do risco de operacionalização do colateral, tem o risco de crédito do operador, ou emissor da stablecoin.
CBDC tem lastro na confiança do Banco Central. Tal qual a moeda em si. Ao passo que a stablecoins lastreadas tem lastro na moeda emitida pelo BC, mas em última instancia a confiança tem que ser depositada na entidade privada que gerencia esse lastro.
Nos últimos anos essa disputa ou corrida para ver quem tem o token de moeda instaurado tem sido enorme. Do lado das stablecoins algumas soluções surgiram, outras morreram, e hoje temos esse modelo de 100% de colateralização presente nas duas maiores USDT e USDC que respondem pela parte majoritária da utilização de tokens representativos da moeda no campo de DEFI. A USDC especificamente por ter a Coinbase, principal Exchange americana, e uma das maiores do mundo, envolvida, ganhou uma boa tração em 2022, mas vem perdendo volume e significância após o evento do Silicon Valley bank (SVB). Em trajetória oposta vem a USDT. Muito já se especulou sobre ela ter ou não o colateral que diz ter e nos últimos anos a governança e transparência sobre isso vem aumentando muito.
Do ponto de vista das CBDCs temos notícia nova toda semana, e muitas vezes mais do que uma por semana. Praticamente todos os BCs do mundo estão envolvidos em algum tipo de teste, piloto e/ou grupo de estudos em relação a isso. China já tem testes sendo feitos. BCB tem piloto do DREX andando. Austrália e Hong Kong acabaram de soltar relatórios sobre pilotos realizados. E por aí vai. Além disso, plataformas como a SWIFT tem operado em ambiente restrito alguns testes com operações reais bem interessantes. E vale lembrar aqui também do BIS que via o seu BIS innovation Hub tem coordenado vários projetos que envolvem vários BCs sobre o tema interoperabilidade e transações transfronteiriças.
De quem está acompanhando isso de perto há pelo menos 5 anos o que vejo é que o momento de estudos e testes em tradfin está se consolidando e muito em breve isso tudo estará à disposição de todos. Do ponto de vista de DEFI também há hoje uma maturidade muito maior nos protocolos e muitos casos de uso devidamente consolidados.
Estamos nos aproximando a passos largos do momento em que utilizaremos a moeda tokenizada de forma fácil, ágil e transparente, viabilizando eficiência e casos de uso somente possíveis devido a isso e o melhor, sem que a maioria de nós talvez nem perceba isso.
Seguimos em contato nos links abaixo:
FinTrender.com, YouTube, LinkedIn, Instagram, Twitter, Facebook e podcast FinTrender.
*texto publicado originalmente na minha coluna da infonomey em 19.set.2023