🎲 🖧 Crypto: entre a nova internet e o velho cassino digital
No barulho do cassino, constrói-se a nova fase da internet.
* Artigo publicado originalmente na minha coluna do Valor Investe em 14 de julho de 2025
O mercado crypto é, por definição, um território de tensões — e talvez nenhuma seja tão central quanto esta: de um lado, uma proposta ousada de reconstrução da infraestrutura digital, baseada em transparência, descentralização e propriedade compartilhada — tema que exploro com profundidade no meu livro A Tokenização do Dinheiro. Do outro, um espetáculo de especulação, onde promessas de enriquecimento instantâneo surgem e somem na velocidade de um meme. Navegar entre esses dois mundos — e reconhecer a legitimidade de ambos — é hoje essencial para entender o que de fato está em jogo.
Chris Dixon talvez tenha sido quem melhor traduziu essa tensão, em seu livro Read Write Own — leitura que confesso ter devorado, e com a qual concordo em quase tudo, especialmente pela forma simples e acessível com que ele articula ideias que, a princípio, parecem bastante complexas, e às vezes até são mesmo.
Dixon divide a história da internet em três atos. Primeiro, o “read”, quando apenas consumíamos conteúdo. Depois, o “write”, quando passamos a participar, criar, comentar — estágio em que ainda estamos. Agora, começa o “own”: a era da posse digital. Não apenas interagimos com plataformas; podemos ter parte delas. Alguns chama isso de WEB3, e é aqui que blockchain entra como protagonista.
Essa camada tecnológica, muitas vezes reduzida à imagem de “moeda digital”, é na verdade uma infraestrutura radicalmente nova, capaz de redesenhar como operamos na internet. Ela permite que comunidades criem redes sociais, marketplaces, sistemas financeiros e jogos onde as regras são transparentes, as decisões são coletivas e o valor gerado é distribuído entre os participantes. Uma espécie de computador global, aberto, onde o código substitui o intermediário — seja ele uma empresa, um banco ou um governo.
Mas esse futuro promissor convive com uma face bem mais barulhenta e, por vezes, distorcida: o “cassino crypto”. É o universo dos tokens de cachorro, das promessas de multiplicar capital em 10x em 24 horas, dos projetos que capturam a atenção do mercado por cinco minutos e depois desaparecem, deixando um rastro de investidores frustrados. É o lado que atrai manchetes, memes e escândalos — e que, infelizmente, tende a dominar a percepção pública sobre o que é crypto.
Não se trata de um problema novo. Toda nova tecnologia passa por uma fase de euforia especulativa. A internet dos anos 90 também teve sua bolha, suas Pets.com e promessas vazias. Mas, assim como naquela época, é fundamental separar o ruído do sinal. O desafio aqui é que, no caso de blockchain, o ruído é muito alto — e o sinal, ainda pouco compreendido.
A diferença fundamental entre esses dois mundos não está apenas na intenção, mas na arquitetura. No cassino, o objetivo é capturar valor rapidamente, muitas vezes sem gerar nada de concreto. Na infraestrutura, o valor é criado ao longo do tempo, pela construção de protocolos, governança, redes. Um exige paciência, o outro, sorte. Um atrai builders, o outro, apostadores.
E é aqui que a questão regulatória entra com força. Se tratarmos todo o ecossistema como se fosse um cassino, corremos o risco de sufocar a inovação legítima. Ao mesmo tempo, se ignorarmos os excessos e as fraudes, colocamos em risco a credibilidade da tecnologia como um todo. O equilíbrio é delicado — e urgente.
Ao mesmo tempo que tentamos colocar toda essa inovação dentro das “caxinhas regulatórias” que já criadas, temos que ter a ciência de que estamos trabalhando com algo novo e que pode, porventura, necessitar de uma nova “caixinha” só para ele. Será crypto só investimento? Como enquadrar o token que é ao mesmo tempo de governança, de gasto para registrar transações e que pode ser aplicado (staked)?
O papel de blockchain pode, e acredito que será, muito grande e disruptivo. Podendo, por exemplo, gerar um novo modelo de propriedade digital, em que usuários deixam de ser apenas “produtos” das plataformas e passam a ser donos de fato. É uma mudança enorme e que pode descentralizar não apenas sistemas financeiros, mas estruturas de poder.
Claro, ainda estamos longe dessa realidade. A usabilidade das aplicações é precária, a governança das DAOs é muitas vezes ineficiente, e a adesão do público geral ainda é limitada. Mas ignorar esse processo seria como olhar para a internet de 1995 e concluir que ela não tinha futuro porque demorava 2 minutos para carregar uma página. E olha que tem muita gente inteligente na época que concluiu apressadamente, e erroneamente, isso.
O ponto é que não tenho dúvidas sobre a integração de crypto ao nosso cotidiano — é inevitável. A verdadeira escolha que temos à frente não é se isso vai acontecer, mas como vai acontecer. Podemos acelerar esse processo com regulação inteligente, investimento em infraestrutura e educação; ou podemos atrasá-lo, permitindo que o ruído continue abafando o sinal.
Crypto continuará sendo um espaço fértil para a inovação. Mas também seguirá sendo um terreno de tensão, onde novas formas de coordenação coletiva convivem com ciclos especulativos intensos. Cabe a nós — como reguladores, investidores, builders — garantir que o que floresça seja a infraestrutura, e não o cassino. Blockchain já não é mais promessa, é realidade em construção. A decisão que temos pela frente é simples: lideramos essa transição com responsabilidade, ou seremos atropelados por ela.
Abraços,
Gustavo Cunha
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