Drex: quando um nome mais confunde do que ajuda🫤
Será o Drex uma nova moeda digital para o Brasil? Ou é apenas o nome da plataforma? A população terá acesso ao Drex da mesma forma que tem acesso ao Pix?
Após duas semanas do anúncio do novo nome da plataforma do Real Digital, DREX, todos ainda estão a digerir esse nome e tentar entender o que ele é. Longe de ser um nome tão bom quando o PIX, as dúvidas que surgiram com esse novo nome vão além da escolha e do nome em si. Será o DREX a nova moeda digital do Brasil? Será somente o nome da plataforma? A população terá acesso ao DREX assim como tem acesso ao PIX? São essa e algumas outras dúvidas que vou tentar esclarecer abaixo.
Antes de começar a responder essas perguntas, vale o disclaimer que eu não estou diretamente envolvido no projeto e que as opiniões que coloco aqui são referentes aos contatos, conversas e estudos que tenho feito sobre o assunto e são minhas e de mais ninguém 😉. Bem, dito isso vamos a elas:
O DREX será a plataforma, ou seja, é o novo nome da REDE do real digital. Não será uma nova moeda. Não será um concorrente do PIX. Não será algo novo e que não tinha sido anunciado antes. Será uma nova plataforma, ponto.
A forma mais fácil de exemplificar isso é via as formas de negociação da moeda que temos atualmente. Independentemente de estarmos usando a moeda em papel, o deposito bancário ou um cheque, a moeda é a mesma, o Real. O que muda é o seu formato ou, mais precisamente, o ambiente onde ele está sendo negociado. Com o DREX teremos o mesmo. A moeda continuará a ser o Real, mas esse terá uma nova plataforma por onde ele poderá trafegar.
Outra forma de vermos isso é usarmos um outro exemplo que utilize o PIX, que já é super conhecido de todos nós. Na LIVE quinzenal que tenho na Fintrender sobre moeda, um dos exemplos que surgiu foi o de uma venda de carro que utilizaria as duas plataformas. Explico.
Imagine quando já tivermos a plataforma do DREX implementada, e tivermos nela uma representação do nosso depósito bancário e também do automóvel que estamos negociando. Via a automatização que o DREX permite, impulsionada pelos smart contracts, será possível realizar uma transação de troca desses dois tokens (carro e real tokenizado), onde a liquidação do token do carro fosse feita via DREX e a liquidação dos depósitos bancários fosse feita pelo PIX.
É esse o caminho mais fácil e sugerido nos testes do piloto? Não. Nos diagramas de fluxo que o piloto quer testar, essa liquidação dos reais será feita via queima do real tokenizado em uma instituição bancária ou de pagamento (usarei IP para simplificar), transferência do Real Digital (CBDC de atacado) entre as IPs e criação de um real tokenizado na instituição recebedora dos valores. Tudo via DREX. Esse é um caminho e, provavelmente, o que será usado em todas as transações que envolvam liquidação atomizada (dvp na sigla em inglês), mas está longe de ser o único e o exemplo acima acho completamente factível de ser realizado.
Sobre a população ter acesso direto a utilizar as funcionalidades do DREX, me parece pouco provável nesse primeiro momento. Diferente do PIX, que é uma plataforma de pagamentos instantâneos, onde a ideia foi que, desde o princípio, todos tivessem acesso e pudessem interagir com ele, no caso do DREX esse será uma plataforma para tokenização de tudo.
O DREX será a infraestrutura financeira do Brasil para frente. Assim como o STR teve um papel importantíssimo no desenvolvimento do sistema financeiro nacional, o DREX seguirá o mesmo caminho.
Como disse o amigo Marcelo Deschamps em uma conversa que tivemos, o “DREX é um STR 2.0 que usa DLT”. Esse exemplo tem suas simplificações, mas é ótimo pois, assim como tivemos TED, DOC etc. utilizando o STR para transitar, teremos o Real Digital, Real Tokenizado, título público tokenizado etc. no DREX. E assim como foi o caso do STR, o nome STR em si só era utilizado por alguns participantes muito especializados. Futuro que pode ser seguido pelo nome DREX.
Pouquíssimos que estão lendo esse texto devem saber, ou se lembrar da implementação do STR. Outros tempos, realmente, mas toda essa divulgação e persistência em explicar um novo nome poderia estar sendo direcionada para explicar a plataforma e não seu nome.
O modelo de moeda digital que o BCB irá testar nesse primeiro piloto sobre sua moeda digital em uma plataforma DLT, é o de uma CBDC de atacado aliada a uma stablecoin de varejo. Em nomes do projeto, teremos na plataforma DREX o Real Digital, que é a CBDC de atacado, negociada exclusivamente entre o BCB e os bancos e agentes autorizados (IPs por exemplo), e o Real tokenizado, que será a tokenização do depósito bancário. Além disso, teremos circulando também títulos públicos tokenizados. DREX não muda os conceitos e nomes do Real Digital, do real tokenizado ou título público tokenizado para mim e se limita a ser o nome da plataforma que poucos terão acesso.
Por fim, fazia tempo que eu não via a simples criação ou mudança de um nome causar tanta confusão. O que traz a reflexão a seguir. Para que? Não teria sido melhor manter o nome rede do Real Digital, ou RD como todos já a estavam chamando?
Talvez, mas a essa altura Inês já é morta! (como diz o dito popular) e agora é todos simplesmente repetirem aos quatro ventos: DREX é a plataforma (ponto!). E vamos jogar a bola para frente e voltar a discutir os benefícios, dúvidas, preocupações que a digitalização da nossa moeda associada a tokenização pode trazer para todos.
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*Publicado originalmente na minha coluna da infomoney em 22-ago-2023