📚 Estamos Desaprendendo a Ler e Escrever?
O futuro da imaginação em um mundo sem escrita e leitura
Muito tenho refletido sobre o fato de que, a cada dia, lemos e escrevemos menos. A leitura e a escrita — esses pilares sobre os quais erguemos a civilização moderna — parecem estar lentamente perdendo a centralidade na maneira como produzimos, transmitimos e absorvemos conhecimento. As novas gerações não apenas leem menos, mas também escrevem menos. E não vejo isso restrito aos mais jovens: esse processo começa a se infiltrar também em pessoas de gerações mais avançadas, como eu, por exemplo.
A tendência é clara. Em breve, todos os modelos de inteligência artificial que hoje trabalham com texto para imagem ou texto para vídeo migrarão inevitavelmente para a voz como principal interface. Nesse cenário, o formato que utilizamos há séculos para registrar informações, perpetuar ideias e até transmitir emoções — a escrita — corre o risco de se tornar obsoleto e, quem sabe, desaparecer.
É justamente sobre esse ponto de inflexão — e sobre o que ele pode significar para o futuro do conhecimento e da imaginação humana — que escrevo. Isso mesmo: escrevo, para que você leia, a seguir.
Mas veja, não se trata de dizer que as pessoas já não saibam decodificar letras ou formar frases com sujeito, verbo e predicado. A erosão é mais profunda: é a própria função da leitura e da escrita que começa a ser desidratada. Ler, hoje, é visto por muitos — e confesso que às vezes por mim também — como um meio ineficiente de adquirir conhecimento. Afinal, por que dedicar horas a um livro denso, técnico, quando um vídeo de dez minutos, um resumo de AI ou mesmo uma rápida conversa com um chatbot podem condensar as ideias principais em segundos, já organizadas com infográficos e exemplos dinâmicos?
Escrever, por sua vez, está sendo terceirizado. Comunicamo-nos cada vez mais por voz — quem não manda áudios pelo WhatsApp? E, quando precisamos de texto, não raro pedimos a uma plataforma de AI que o produza por nós: emails, relatórios, artigos, até mensagens pessoais. A sensação generalizada é de que o tempo de escrever com as próprias mãos, pensar com as próprias palavras, está ficando para trás.
E isso nos leva a uma pergunta inevitável: o que acontecerá com a nossa civilização se abrirmos mão da leitura e da escrita como instrumentos centrais de transmissão de conhecimento?
Historicamente, a escrita não foi apenas um meio de registrar fatos. Foi o nosso mecanismo de eternizar ideias, estruturar argumentos, preservar a lógica. A leitura, por sua vez, sempre foi uma experiência solitária, íntima e profundamente transformadora. Ao ler, ativamos regiões do cérebro associadas à empatia, à criatividade, à memória. Mais do que isso: lemos para imaginar.
Quando você lê um romance, precisa projetar imagens mentais dos personagens, dos cenários, das emoções. É um exercício ativo de construção de mundo. Diferente do vídeo, que entrega tudo pronto, a leitura exige participação. Você precisa co-criar com o autor. Cada leitor vê uma Paris diferente em O Código Da Vinci, ou tira lições próprias ao ler O Príncipe, de Maquiavel. Quantas vezes não aconteceu de você ler um livro e, ao assistir à adaptação para o cinema, não reconhecer os lugares que havia imaginado?
Se perdemos essa capacidade, o que perdemos junto?
Talvez o mais preocupante não seja apenas a mudança de suporte — do texto para o áudio, do livro para o vídeo — mas sim a mudança de postura cognitiva. A leitura e a escrita treinam a paciência, a profundidade, o pensamento crítico. Elas exigem tempo e fricção. E é justamente essa fricção que constrói o saber. O que nos diferencia dos outros animais conforme muito bem colocado no Sapiens do Yuval Harari. Já o conhecimento adquirido por repetição de vídeos curtos ou respostas instantâneas me parece mais ruído do que conhecimento propriamente dito.
Para intensificar esse processo, surgiram nos últimos anos os modelos de linguagem (LLMs), que são, ironicamente, leitores e escritores vorazes. Alimentam-se de textos, estilos, contextos. Produzem linguagem a partir da linguagem. O que estamos fazendo, então, é terceirizar nossa função cognitiva mais nobre para máquinas que imitam justamente aquilo que estamos deixando de praticar. E isso é, ao mesmo tempo, fascinante e assustador.
Estaremos, então, assistindo ao fim da leitura e da escrita como as conhecemos?
É possível. Talvez o que surja em seu lugar seja uma nova forma de cognição, mais integrada entre fala, imagem e código — onde o humano fornece a intenção e a máquina, a expressão. Nesse mundo, a leitura profunda será um luxo; e a escrita, uma arte rara.
A questão é: queremos mesmo abrir mão da imaginação que só a leitura nos proporciona? Queremos viver num mundo em que nossas ideias sejam sempre intermediadas por assistentes digitais?
Eu, que adotei a escrita como forma de me expressar, de discutir comigo mesmo (e com vocês) minhas ideias, de gerar debates, aproximar pessoas e organizar pensamentos, não quero perder isso. Mas confesso: a leitura tem se tornado cada vez menos recorrente, e a pressão pela velocidade na absorção de conhecimento me empurra, não sempre por vontade, para alternativas mais rápidas.
E você? Acredita que em poucas gerações ler e escrever serão atividades de artesãos? Um luxo que poucos dominarão? Isso os diferenciará — ou será visto apenas como uma relíquia do passado, digna de museu, com início no papiro e fim nos modelos de inteligência artificial? Me diga o que acha e vamos discutir por escrito nos comentários! 😉
Abraços,
Gustavo Cunha
Seguimos em contato nos links abaixo:
FinTrender.com, YouTube, LinkedIn, Instagram, Twitter, Facebook e podcast FinTrender
✨ Exclusividade FinTrender ✨
🚀 Garanta sua Gota Exclusiva FinTrender, totalmente GRATUITA e celebre sua conexão especial com o universo FinTrender.
➡️ Acesse Gotas.social e use o código LEREESCREVER resgatar a sua.
💡 Não perca essa oportunidade no universo Web3, powered by Gotas!