Existe uma diferença enorme — e raramente discutida — entre estar certo e estar certo na hora certa. Em investimentos, como na vida, o timing é o que separa a sabedoria da ruína. Há uma frase clássica de Keynes que continua atual e que levo como mantra antes de qualquer decisão:
“O mercado pode permanecer irracional mais tempo do que você solvente.”
Ela nos lembra de algo fundamental: não basta ter razão. É preciso que o mundo concorde com você — e no momento certo.
Quantos investidores brilhantes já viram sua tese se concretizar... tarde demais? Um relógio quebrado, daqueles de ponteiro e que hoje praticamente só existem como joia, acerta a hora duas vezes por dia. Isso não o torna confiável, apenas inevitavelmente correto em momentos específicos. O mesmo vale para previsões em economia e mercados: mesmo que estejam certas, se o tempo de maturação for longo demais, o custo de carregar essa aposta pode ser fatal.
Pegue o exemplo recorrente — quase folclórico — dos profetas do colapso do dólar. Há décadas, economistas, influenciadores e libertários anunciam o fim do dólar. Sim, a dívida americana é gigantesca. Sim, o sistema internacional baseado no dólar está sob pressão. Mas a pergunta que importa não é se isso vai acontecer, e sim: quando? E mais ainda: como sobreviver até lá?
Em momentos de mercado como os que vivemos nos últimos dias — com a maior queda semanal da bolsa americana em 5 anos — toda essa discussão volta à tona, e os cavaleiros do apocalipse saem de suas cavernas e ganham projeção. Estarão eles certos agora? É o que todos se perguntam.
Minha experiência diz sempre o contrário. E aqui puxo outro mantra que sigo (esse menos do que gostaria, mas ele está sempre ali, na cabeça):
“O momento de comprar é quando há sangue na rua.”
O complicado aqui é saber se já há sangue suficifiente ou ainda pode piorar. E aí entra em ação o que chamamos em cripto de DCA (Dólar Cost Averaging), que nada mais é do que ir comprando e fazendo preço médio. Se voce está certo na sua tese, dai é questão do tempo se ajustar a ela e essa estratégia pode te ajudar muito a sobreviver.
Mas voltanto ao ponto de apostar na tese apocalíptica do fim do dólar, estar posicionado nela pode fazer sentido em teoria, mas na prática exige convicção, caixa e um horizonte quase bíblico. Enquanto a tese se desenrola — ou não — o custo de carregar posições anti-dólar (seja em ouro, cripto ou moedas emergentes) pode ser alto. Um exemplo simples: o custo de tomar dólares hoje gira em torno de 5% ao ano. Isso significa que, em 14 a 20 anos, dependendo se você considerar juros simples ou compostos, o rendimento necessário para cobrir apenas esse juro consome 100% do seu capital. O risco, portanto, não está apenas no erro da tese, mas no tempo que ela leva para se concretizar. Será que os defensores dessa visão estarão vivos para ver sua vitória? Ou sucumbirão ao custo de carregar razão fora de hora?
Na crise de 2008 vimos isso com clareza. Michael Burry, retratado em The Big Short (que já assisti inúmeras vezes — e recomendo todos reverem de tempos em tempos), acertou em cheio ao apostar contra o mercado imobiliário americano. Mas quase foi à falência antes de estar certo. O mercado zombava da tese dele — até que parou de rir. Se o colapso tivesse vindo seis meses depois, talvez nem soubéssemos quem ele é. Estar certo era só metade da equação. O outro lado era o timing.
E aqui vale um parêntese importante: também não acho razoável estar 100% apostado na ideia de que nada disso vai acontecer. Sempre considero outro ponto fundamental — a relação entre a probabilidade de um evento e o tamanho do impacto caso ele ocorra. Seguindo os princípios do Taleb, especialmente os conceitos de antifragilidade, mantenho sempre no radar o que ele chama de risco de ruína: aquele evento de baixíssima probabilidade, mas que, se acontecer, te tira do jogo. É o tipo de risco que você nunca pode ignorar — mesmo quando acha que está certo.
Voltando à discussão entre o estar certo e o timing disso, esse princípio se aplica fora do mercado também. Quantas ideias inovadoras fracassaram porque chegaram antes da hora? Quantos profissionais foram subestimados por enxergarem o que os outros ainda não viam? A diferença entre pioneiro e louco, muitas vezes, está na curva de adoção. E no tempo.
No fim, a arte de investir — e de viver — exige mais do que boas ideias. Exige esperar o tempo certo, dosar convicção com flexibilidade, e lembrar que o mercado, como a vida, nem sempre premia quem tem razão. Mas costuma recompensar quem tem paciência para esperar a hora certa de estar certo.
Foquei essa discussão na parte relativa ao investimento, mas como deu pra notar, ela vai muito além disso.
Se você acha que vale um texto expandindo esse tema em uma linha mais reflexiva e humana, comenta aí...
Tô morrendo de vontade de escrever! 😉
Abraços,
Gustavo Cunha
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Perfeito. No final das contas sempre é uma aposta, apesar das pessoas não gostarem de usar esse termo. Sobre o Michael Burry, ele foi genial, mas você não acha que ele abusou da sorte? Ou realmente era previsível o colapso antes dele quebrar? Eu não sei se gostaria de tê-lo como gestor dos meus investimentos (rs).