👤 Hiperpersonalização: é isso mesmo que queremos?
Uma reflexão sobre o individualismo na era do conteúdo sob medida.
Imagine sentar-se no sofá depois de um dia puxado, ligar a TV, entrar no seu app de streaming preferido e, em vez de escolher entre centenas de fimes e séries dele, ser recebido por um filme inédito, criado na hora — exclusivamente para você. Um roteiro sob medida, que leva em conta o seu humor, o clima lá fora, seu histórico recente de consumo e, quem sabe, até a variação dos seus batimentos cardíacos nas últimas 24 horas.
Parece ficção científica? Pois essa realidade está cada vez mais próxima.
Se hoje os algoritmos da Netflix, Amazon ou Disney+ já nos oferecem recomendações “personalizadas”, o passo seguinte — e ele já começou — é o da hiperpersonalização. Com a evolução de AI, logo será possível criar narrativas audiovisuais inteiras, sob demanda. Filmes que misturam ação, romance, drama existencial, com a estética que você ama, os “atores” que mais te tocam, e até rostos gerados com base nas suas memórias afetivas — tudo isso renderizado em minutos. Só para você. Literalmente.
Duvida? Vale dar uma olhada no perfil da Marisa Maio no Instagram. Atriz, influencers, cenário, lugar… nada ali é real. Nem ela, nem os “amigos”, nem os cenários. Tudo criado por AI. Quanto tempo para sairmos de vídeos curtos e chegarmos a filmes completos de duas horas com esse nível de realismo? Trimestres? Talvez semestres. Mas certamente não anos.
Na música, isso já está presente. Plataformas como Suno e Udio permitem gerar faixas originais com instruções simples. “Quero uma música para comemorar os 20 anos de um escritório de arquitetura que tem o site tal, socio tal, com vibe anos 80, animada e vibrante.” Pronto. Letra, batida, melodia, arranjo — tudo criado em segundos. E é possível testar a mesma composição em diversos estilos até encontrar o mais eficaz. E isso já está sendo usado em jingles de campanhas políticas, vídeos institucionais, reels. Agora imagine criar uma playlist com músicas inéditas, com letras escritas por você, com arranjos só seus. Uma trilha sonora exclusiva — sua e de mais ninguém.
E aí vem a pergunta: É esse mundo que queremos para nós?
Se cada um tiver seu próprio filme, sua música única, sua narrativa customizada... o que nos resta de comum? Parte fundamental da experiência humana está na partilha. Na conversa no café sobre o episódio da série que todo mundo viu. No refrão que ecoa em coro num show. No conforto do coletivo, de que do outro lado, existe alguém vivendo algo parecido.
A hiperpersonalização corre o risco de nos empurrar para bolhas sensoriais. Mundos paralelos, altamente eficientes em satisfazer, mas cada vez mais solitários. Seremos usuários em realidades desenhadas sob medida, mas sem pontos de conexão com os demais?
Talvez caminhemos para um cenário onde o conteúdo coletivo — como os filmes de cinema, os álbuns em vinil, os clássicos da TV — ocupe o mesmo lugar que hoje é reservado às relíquias. Objetos de culto, reverenciados não por sua perfeição, mas pelo que representaram: experiências comuns. Humanas. Compartilhadas.
Veja os vinis. Estão voltando, mesmo caros, mesmo “inúteis” no raciocínio puramente lógico. Por quê? Porque carregam história. Carregam memória. E, principalmente, carregam gente. Como já escrevi outras vezes, a irracionalidade humana é parte central da equação.
A tecnologia, como sempre, não é vilã nem salvadora. Ela apenas nos possibilita realizar os nossos desejos.
Se o futuro será feito de narrativas sob medida ou de experiências coletivas, isso vai depender menos de AI… e mais de nós.
Queremos histórias perfeitas — e solitárias?
Ou imperfeitas, mas reais — e compartilhadas?
Essa talvez seja uma das decisões mais fundamentais do nosso tempo.
Abcs,
Gustavo Cunha
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Reflexão relevante, de quem ainda tem um certo controle ao precipício da matrix. Sou desses, e estou bem incomodado com a direção dos ventos.