💰Investimento para 20 anos
Em que você investiria hoje para olhar somente em 20 anos? O que levaria em consideração na decisão?
Muito se fala sobre investimentos no longo prazo, em comprar valor e não preço, value investing e vários outros nomes para descrever o processo que é tão simples como selecionar ativos que estarão aí no longo prazo e que darão uma rentabilidade real, ou seja, acima da inflação. Mas quais aspectos devemos analisar? Quais os melhores ativos que se encaixam nisso? É sobre isso que escrevo a seguir...
Investimentos no longo prazo tem ao menos quatro aspectos que não podem ser ignorados: estabilidade política do país (moeda) do investimento, resiliência em relação à inflação, acesso e custo de manutenção.
Sobre a estabilidade política vou pegar um exemplo fácil de visualizar. O principal ativo que vem à mente de todos quando falamos de ativos de longo prazo e com uma aura de segurança jurídica boa é o imobiliário (apartamentos, casas, terra etc.) mas isso depende imensamente da localidade e do país que estamos falando. O Brasil passou nas últimas décadas por um período e razoável estabilidade política, mas sempre esteve bem perto do precipício, ou seja, quantas vezes nós, brasileiros, nos questionamos sobre isso? ainda mais nos últimos anos em que as discussões políticas ficaram cada vez mais acirradas e antagônicas? Uma outra forma de se ver isso é analisarmos outros países como Rússia e Argentina. Quem comprou imóvel nesses países há 20 anos certamente não estaria feliz se acordasse hoje e fosse ver o resultado. Imagina agora quem o fez na Ucrania? O efeito de home bias, ou seja, comprar ativos no local onde mora, tem que ser pensado com muita consciência em lugares menos estáveis.
Esse fator é certamente o maior fator para seleção de países com histórico longo de estabilidade tal como Suíça, grandes países da Europa, USA, Japão e China em alguma escala. A tese de que em 20 anos eles continuarão politicamente estáveis não é infalível, mas a chance de estar errado, ou muito errado, é menor nesses países. Além de imóveis, ações de empresas “campeãs nacionais” (ou mundiais) tb entram nessa categoria, já que entramos em um mundo em que corporações em muitos casos tem mais poder que inúmeros Estados. A diversificação dentro de uma moeda entre Estado e Empresas gigantes naquela economia (e no mundo) é muito bem-vinda.
Um outro fator especialmente importante nessa seleção é a resiliência desse ativo à inflação. Pegar dinheiro em papel e colocar embaixo do colchão ou deixar dinheiro parado em uma conta de um banco é uma péssima estratégia nesse sentido. Todas as moedas do mundo têm uma tendência inflacionária e, se na última década tivemos a inflação sobre controle e muito baixa, o horizonte futuro parece diametricamente oposto a isso. Imóveis aqui entram novamente no escopo, assim como títulos de países que corrijam inflação (Tesouro inflação no caso brasileiro e TIPs no caso americano), ouro e porque não dizer outros ativos escassos como Bitcoin e Ethereum.
Um terceiro aspecto é acesso. Comprar um ativo e voltar somente 20 anos depois para vê-lo é um risco enorme. Risco dele não estar lá, do custodiante que você o deixou quebrar, dele ser roubado e por aí vai. Lembro de um projeto que tive acesso há uns 10 anos para plantar árvores no Maranhão e que no papel era espetacular. Um prazo de aproximadamente 20 anos e uma rentabilidade que batia a imensa maioria dos investimentos que analisei à época, só que plantar arvores e ir lá 20 anos depois colhê-las não é bem assim que funciona. Tem a questão do custo de manutenção, proteção contrafogo e um custo que se mostrava enorme no projeto que era proteção contra roubo da madeira, já que cada árvore perto do final da colheita teria um valor unitário de mais de R$ 5.000. Estará a floresta lá quando você voltar para colher os resultados?
Outro projeto similar que analisei foi um projeto de uma fazenda de energia solar, de geração distribuída como chamam. Esse com rentabilidade similar ao das árvores, mas com uma tecnicidade e necessidade de aprovações e manutenção ainda maior. Ambos os projetos têm uma característica de que é necessário a confiança em um terceiro que irá cuidar disso tudo por esse prazo de 20 anos. Em quem confiar? Qual o melhor parceiro para essa empreitada? São perguntas que não podem deixar se ser feitas.
E aqui chegamos ao quarto fator: o custo de carrego. No caso acima da fazenda solar ou de árvores, ele envolve todos os custos para se manter tudo funcionando e seguro. No caso de imóveis temos IPTU, manutenção, contas de água/luz etc. No caso de ativos financeiros (ações, fundos, títulos...) temos os custos associados à custódia e negociação. No caso de ativos cripto os custos financeiros são mínimos e talvez os menores de todos, mas temos que cuidar de ter certeza de que em 20 anos saberemos onde estão as chaves de acesso aos ativos (ou chaves privadas como são chamadas) e aqui voltamos ao ponto de acesso.
A pergunta que fica é quais ativos hoje se enquadram melhor nesses aspectos? Já pincelei alguns deles no decorrer do texto e vou aqui me aprofundar mais em alguns deles.
Imóveis – parece um bom e deve fazer parte. Local (cidade, País) e custo de manutenção são fatores importantíssimos. Investimentos indiretos como fundos imobiliários podem ser uma boa opção
Ações – também bom e deve fazer parte. Campeões mundiais, ações ligadas a tecnologia e “corporações Estado” são minhas preferencias sobre quem estará por aí em 20 anos. Lembrando que das 10 maiores empresas do S&P hoje pouquíssimas estavam nessa lista há 10 anos.
Títulos de governo – Também bom e deve fazer parte. Somente títulos que corrijam inflação. Ninguém prevê juros de dois dígitos para os principais países do mundo no momento, mas esse é um risco que não faz sentido assumirmos. Escolher títulos de países com estabilidade política no longo prazo.
Cripto – Também bom e deve fazer parte. Focar nas maiores e cuidar para ter acesso à carteira em 20 anos. Importante não depender de terceiros aqui já que a infraestrutura de Exchanges apesar de estar melhorando muito ainda tem riscos grandes.
Ouro e metais – mixed feelings. Mais pela forma de acesso do que pelo ativo em si. Como comprar? Via ETFs? De quem?
Projetos alternativos – Aqui se enquadram as florestas de arvores e painéis solares, por exemplo, e é muito difícil decidir. Sempre haverá um terceiro de confiança que você terá que ter. Mais do que o projeto talvez o mais importante seja achá-lo. Muito específico e difícil de considerar, mas se achar o parceiro de confiança e um projeto bom, por que não?
Selecionados os ativos que devem compor a carteira, cade aí decidir a proporção entre eles, tarefa que considero ainda mais árdua, mas selecionando os ativos corretos já tira do seu portfolio grandes erros que possa incorrer e prejudicar muito seu investimento o que já ajuda demais.
Uma pergunta que você deve ter se feito é porque 20 anos? Confesso que foi aleatório e para sair dos 10 anos que eu e tantos outros comentam. Talvez longo demais? Talvez influencia dos vinhos do Porto excelentes que tomei recentemente? Sei lá. Mas a verdade é que adoro a ideia de fazer essa experiência e revisitá-la em 20 anos. Vamos?
Abraços
Gustavo Cunha
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Concordo com quase tudo o que escreveu na mensagem. Na minha opinião só não colocaria títulos do governo porque a 20 anos o retorno é muito baixo em comparação com as outras categorias de ativos. Creio que se pode ter uma pequena alocação a títulos do governo no caso de precisar de mexer em parte do investimento durante os 20 anos. COmo sugestão de alocação de portfolio eu recomendaria 50% em ações de grandes empresas americanas, 30% em imobiliário e 20% em Crypto.