🛡️ Voce não precisa estar certo. Precisa estar vivo
Lições que aprendi sobre estar zerado em tempos de incerteza.
Uma das coisas que constantemente preciso lembrar é a frase que dá título a este artigo. Sempre que estou zerado — ou com exposição mínima em determinado ativo — surge aquele sentimento incômodo de que perdi algo, de que poderia estar melhor. É como estar num bar comemorando o título de um time que não é o seu. Todos vibram, mas você está ali, neutro, deslocado. No jargão financeiro, está zerado naquele ativo.
Esse sentimento é desconfortável. E, justamente por isso, temos a tendência natural de evitá-lo. O problema é que, ao fugir desse desconforto, acabamos tomando decisões financeiras subótimas — para dizer o mínimo. Seguimos a manada, entramos atrasados em movimentos já esticados e, pior, sem entender direito por que estamos ali. Não é que o consenso esteja sempre errado, mas quando a base da decisão é emocional — e não analítica —, o risco aumenta. Investir junto com todo mundo, só porque “está subindo”, é um dos erros mais fáceis de cometer.
Vale abrir aqui um parêntese sobre a dinâmica de mercado. A maioria dos investidores enxerga o mercado como um sistema binário — onde ou se está comprado ou se está zerado. Mas a realidade é que ele se comporta como um espectro que vai de -1 a +1. Podemos estar 100% comprados, 100% vendidos ou simplesmente zerados. E, embora essa última posição pareça insossa, ela pode ser a mais poderosa em determinados momentos. Estar zerado não é sinônimo de inércia. Pelo contrário — é uma decisão ativa, estratégica, baseada na leitura de que não há assimetria suficiente naquele momento. Ter essa consciência não é trivial. E, nesses momentos, o sentimento de “estar perdendo” quando o mercado anda é quase inevitável.
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💡 Não perca essa oportunidade no universo Web3, powered by Gotas! O que me ajudou muito a lidar com isso foi começar a ver o mercado por esse prisma de -1 a +1. Estar zerado é desconfortável porque, volta e meia, você vai estar naquele bar que mencionei no início, cercado de gente que ganhou — seja com a alta ou com a queda. Em geral, a festa é mais barulhenta quando o mercado sobe, já que a maioria atua como comprada ou, no máximo, zerada. Mas também há o vendido, que lucrou com a queda. E você ali, fora do jogo, observando.
Ainda assim, essa posição aparentemente “em cima do muro” é extremamente potente — especialmente em momentos de enorme incerteza, como o atual. O Bitcoin, que há tempos se tornou termômetro do apetite global por risco, já acumula uma queda superior a 25% desde o topo recente. Ainda não dá para afirmar com clareza que estamos em um bear market, embora as vozes nesse sentido estejam cada vez mais altas. Mas o simples fato de a dúvida ter se instalado já é suficiente para mudar a dinâmica. Quando o mercado perde direção e o sentimento se fragmenta, o campo fica fértil para erros. E um dos mais perigosos é operar como se tudo estivesse normal.
Não preciso me alongar muito sobre o quão estranho está o mercado atualmente. Os sinais estão por toda parte — e os motivos para entrarmos em espirais de realização profundas são inúmeros. Já escrevi sobre isso em um artigo recente. O que falta, talvez, não seja mais um dado ou uma estatística, mas sim uma mudança de sentimento. Um gatilho. Algo que rompa o consenso e acione o efeito dominó.
É difícil prever quando isso acontecerá ou qual será o estopim. Mas o que parece cada vez mais evidente é que alguns dos principais alicerces que sustentaram as altas dos últimos anos começaram a ser questionados. A valorização explosiva das empresas de IA, o crescimento descontrolado das dívidas soberanas, a alta acentuada dos juros de 10 anos no Japão — são peças relevantes que estavam sendo ignoradas, mas que voltam à tona em qualquer conversa mais profunda sobre o estado atual dos mercados. Ainda estão sendo ignoradas, é verdade. Mas até quando?
Nesse ambiente de fragilidade oculta, o investidor que insiste em ver sinal de compra em todo recuo pode estar mais comprometido com sua narrativa interna do que com a realidade dos preços. E quando essa teimosia se mistura com alavancagem ou exposição excessiva, o risco da ruína deixa de ser teórico — ele se materializa. E esse, vale reforçar, é o único risco que não se pode correr. Nunca. Eventos de cauda acontecem. Choques inesperados surgem. E a liquidez desaparece justamente quando ela é mais necessária. Quem está mal posicionado nesses momentos pode ver anos de construção evaporarem em questão de dias.
O risco do qual precisamos nos proteger não é uma correção comum de 20% ou 30% no Bitcoin a partir de sua máxima — isso já está no jogo. O que me preocupa é o risco de uma queda de 50%, 60%, 70%, que pode parecer exagerada para quem chegou agora, mas que o mercado já entregou diversas vezes. Esse é o tipo de evento que não quero — e não devemos — enfrentar com exposição excessiva. Se, para evitar isso, eu tiver que abrir mão de uma alta de 20% no curto prazo, que seja. Porque deixar de ganhar não é o mesmo que perder.
E é aqui que entra o fator emocional. Ele é, como sempre, o maior acelerador de decisões ruins. O medo de ficar de fora, o arrependimento por não ter surfado o último rali, a ansiedade de estar posicionado — tudo isso pesa mais do que deveria na balança. O famoso FOMO às vezes bate forte, especialmente quando o mercado sobe e você está zerado. Mas uma das lições mais valiosas que aprendi ao longo dos anos é que preservar capital é, muitas vezes, o investimento mais importante que você pode fazer. Só quem preserva capital — e sanidade — permanece no jogo. E só quem permanece no jogo é capaz de capturar as grandes oportunidades quando elas finalmente surgem.
Enquanto a maioria busca estar certa o tempo todo, o que realmente importa é permanecer vivo. E isso passa, inevitavelmente, por aceitar que nem sempre é hora de ganhar. Às vezes, é hora de simplesmente não perder. Estar zerado pode parecer entediante, mas é uma das formas mais eficazes de proteger seu emocional, seu capital e sua clareza.
No fim das contas, a melhor jogada é muitas vezes aquela que você teve disciplina suficiente para não fazer. Pense bem antes de agir. Tenha uma visão de longo prazo. Reavalie periodicamente suas posições. E, acima de tudo, nunca se exponha a ponto de quebrar. Sua exposição de mercado pode — e deve — variar entre -1 e +1. O mercado permite ganhos tanto na alta quanto na queda. Mas ele só recompensa quem sobrevive.
Keep safe.
Abcs,
Gustavo Cunha
* Artigo publicado originalmente na minha coluna do Valor Investe em 27 de novembro de 2025
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