Legado é uma palavra que é automaticamente associada a maturidade. Quando você tem 20 anos poucos pensam sobre isso, pois tem a sua frente muito tempo para crescer, interagir, criar e, porque não dizer, viver. Mas minha impressão é que as gerações mais novas têm essa preocupação mais cedo, ou melhor, acho que até minha geração tem isso, só que não sabe/sabia explicar.
Quando penso em legado, a primeira coisa que vem a minha cabeça, é uma frase de um livro que li ainda quando era adolescente: "Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria." Essa frase repleta de ironia me marcou de tal modo que até hoje é comum ela martelar minha cabeça. Para quem não identificou, essa é a frase final do livro memórias póstumas de Braz Cubas, um clássico da literatura portuguesa escrito por Machado de Assis.
Ela traz um dos aspectos mais importantes referentes a legado, a passagem dos nossos genes para nossos descendentes. É profunda e de se pensar. Certamente muito mais profunda do que qualquer reflexão que já trouxe até aqui, mas não é por aí que quero ir.
Minha discussão sobre legado tem a ver com o que deixamos para as próximas gerações. Deixar filhos pode ser um ótimo legado.
Minha forma de pensar me leva a ver a questão sob dois aspetos, um mais direto e outro mais indireto. O direto está relacionado a temas como o do livro, teremos filhos? Qual nosso impacto direto nas pessoas a nossa volta? Contribuímos para elas serem mais felizes? O indireto está atrelado a atuações que temos e que indiretamente ajudarão as próximas gerações: ser vegano? Usar bicicleta ou ir andando ao invés de pegar transportes movidos a combustão? Ter carro elétrico? Consumir somente de empresas que estejam de acordo com os seus valores? E por aí vai.
As duas formas, apesar de eu as colocar em caixinhas de efeitos diretos e indiretos tem em comum a nossa ação. Somos nós individualmente que influenciamos diretamente as duas. Nossas ações são o vetor que direcionará esse legado.
Nos fatores diretos cabe a nós determinar o que temos feito com a nossa vida e como queremos nos tornar ser humanos melhores. Nossas ações diretas, com pessoas próximas são, sem dúvida alguma, a principal coisa a ficar atento. Quando foi a última vez que você conversou com seus pais por horas a fio e ambos se divertiram? Fez questão de ver o seu amigo(a) no dia do aniversário dele (a)? Parou por um momento para ajudar uma senhora ou senhor de idade que estava com alguma dificuldade? Todos esses exemplos são coisas que só dependem de nós e que criam um ambiente de felicidade e harmonia com todos a nossa volta. E os efeitos em nós também vem na mesma direção e magnitude.
Do ponto de vista indireto, que talvez nem sejam tão indiretos assim, as gerações mais novas dão aula nisso. Comprar alimentos de produtores próximos minimiza os impactos no planeta que as cadeias logísticas longas têm, ter preocupações com a sustentabilidade das suas ações, reciclar e todos os 14 princípios elencados pela ONU são exemplos vivos disso.
Eu tenho uma visão um pouco mais pragmática disso que tem a ver com o custo de oportunidade dessas ações.
O carro elétrico talvez seja o mais fácil de exemplificar. Ele custa mais caro, ainda requer uma organização muito maior do que o carro a combustão nos abastecimentos e nem é tão sustentável assim, pois os resíduos da bateria, que tem uma vida útil não muito grande, são enormes e muito poluentes.
Tirando esse último ponto que vai no cerne de ser sustentável ou não, serão o preço e necessidade de organização/logística de abastecimento fatores negativos que compensam os fatores positivos? E se utilizássemos essa diferença de preço para ajudar anonimamente pessoas ou comunidades em dificuldade?
Não sei se notaram, mas inclui uma palavra acima que faz toda a diferença, anonimamente. Fatores sociais nos impactam e durante períodos da nossa vida nos importamos em demasia sobre eles. Você se imagina chegando em um churrasco em uma casa de campo de um amigo onde todos tem carro elétrico e você chega com uma caminhonete a diesel? Ou deixando o seu filho na escola em uma situação similar? Ser aceito por grupos sociais é uma necessidade de todos e as vezes tomamos atitudes sub-ótimas nesse sentido. Ter princípios que nos levarão ao legado firmes e imutáveis nem sempre é fácil.
As decisões e atitudes que descrevi acima, apesar de parecerem de curto prazo e que pouco tem a ver com nosso legado, na verdade não o são. Vejo o que deixamos para frente como um acumulado de atitudes que fizemos aqui, hoje, ou melhor, legado nada mais é do que um acumulado de atitudes e decisões que tomamos e que impactaram e/ou continuarão impactando as outras pessoas.
Uma outra questão é sobre se e quando devemos nos preocupar com isso. Carpe Diem, vamos viver o presente e deixar que o futuro tome seu rumo. Fazendo o melhor, sendo felizes, tendo impactos positivos nos demais e seguindo a vida talvez seja a forma de andarmos e de, por consequência, deixar um legado.
Não sou dessa filosofia. Acredito que temos controle sobre o presente e que temos que ter alguns parâmetros de onde queremos ir no futuro para guiá-los.
Poucos de nós conseguiremos deixar um legado ao mundo que será lembrado, ou impactará, absolutamente todos no mundo. Steve Jobs, Einstein, Henry Ford e Leonardo da Vinci, para citar alguns que não estão mais entre nós, ou Bill Gates, Elon Musk e Mark Zuckerberg para citar outros que ainda tem seu legado em construção, são os nomes que me vem diretamente à cabeça. Certamente temos vários mais, mas se consideramos a população do mundo serão pouquíssimos. O que não quer dizer que eles não possam servir de inspiração para todos nós. Uma meta ou modelo para termos na mente.
Um outro ângulo é o impacto que temos quando arriscamos testar algo novo. Esses textos que tenho escrito tem trazido momentos de muita felicidade e prazer por conseguir fazer com que você, leitor ou leitora, consigam pensar sobre aspectos das nossas vidas que muito das vezes sucumbem à rotina do dia a dia. O que começa com minha necessidade de escrever para me ajudar a pensar, ou como digo, organizar o pensamento, tem servido de fonte para mais pessoas. Parte do meu legado, sem dúvida. Parte da construção do seu legado, com certeza.
Um aspecto interessante do mundo que vivemos hoje é que nosso impacto ou influência pode ser maximizado de uma forma que pouco controlamos por conta de toda a digitalização e conectividade que temos hoje. Bom sob o aspecto de que nosso legado pode ir além das fronteiras físicas de onde vivemos e das pessoas que vivem fisicamente a nossa volta, mas ruim sob o aspecto de que a mensagem as vezes sai do nosso controle e pode ir para caminho que não exatamente desejamos. Mas é o que é. Temos que conviver e ir acertando isso à medida que vivemos.
Por fim as perguntas que ficam: estará nosso legado totalmente sob o nosso controle? Como nossos princípios o afetam? Precisamos ter claro o rumo a seguir o tempo todo? Quando arriscar e quais parâmetros seguir?
Perguntas que ficam ecoando no ar assim como uma outra citação que martela minha cabeça recorrentemente: “nunca pergunte por quem os sinos dobram, eles dobram por ti”. Uma frase que traz a lembrança de que a vida é etérea e temos que pensar no presente e futuro a todo momento.
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