👑NFTs are dead. Long live NFTs
Preço dos NFTs e a imensidão de casos de uso que estão surgindo
Non-fungible tokens (NFTs), ou em português, tokens não fungíveis, ficaram mundialmente conhecidos por duas coleções, e respectivas comunidades de arte digital, a Bored Apes e a cryptopunks. Tendo alguns desses nfts alcançado valores superiores a $ 3 milhões de dólares a atenção da mídia, investidores e entusiastas foi praticamente automática.
Nos últimos trimestres o que se viu foi uma imensa queda de valores de todos esses nfts. Para se ter uma ideia, a Bored Apes Yatch club, que é a principal coleção dentre os Bored Apes, tem hoje o seu floor price (menor preço entre todos os nfts da coleção) em $ 45.000, depois de ter alcançado no segundo trimestre de 2022 um preço mínimo de $ 345.000.
Alguns aqui, mais acostumados com o mudo crypto podem argumentar que o preço dessas coleções não é dado em dólares e que essa queda reflete mais a queda do ether, token da rede Ethereum que é a base de preço para esses nfts, do que a queda de preço dos Bored Apes em ether. Infelizmente isso não é o caso. Mesmo em Ether o preço caiu de algo com 120 ethers para 26 ethers. Apesar da Queda do ether em relação ao dólar justificar um pedaço da queda de preços, a maior queda foi em ethers mesmo.
Essa enorme queda foi assunto de um report da dappgambi que repercutiu muito na comunidade cripto. Esse report constatava que mais de 95% dos NFTs não tem valor nenhum.
Não vou entrar aqui o porquê dessa queda e da falta de uso/utilidade que levam a maioria dos NFTs a não valerem nada, mas sim olhar o hoje e o futuro para ver qual a perspectiva.
Para começar vale separar os tipos de NFTs. NFTs são representações via tokens, em redes de blockchain, de direitos e/ou utilidades. São uma representação de algo não-fungível nessas redes que permitem transferências diretas entre usuários, sem necessidade de intermediários. São, portanto, uma forma de termos a custódia de ativos digitais únicos.
Isso engloba uma imensidão de casos de uso.
O principal e mais conhecido é o que descrevi no começo desse texto: nfts de arte que, em geral, estão associados de alguma forma a uma narrativa e uma comunidade. A narrativa do Bored Apes é muito boa. Para quem não a conhece vale a pena ler esse report feito pela paradigma educação.
Mas NFT está longe de ser somente arte e comunidade crypto. NFTs englobam uma enormidade de outros casos de uso que vão desde gestão de programas de fidelidade, tokens de ativos reais como imóveis, grãos ou carros e muito mais. Até nossa identidade digital pode fazer sentido que seja representada via um token.
E é aí que essa porta aberta pelos NFTs de arte está escancarada e uma imensidade de casos de uso e soluções estão surgindo. A inovação sempre encontra nos seus estágios iniciais setores onde as barreiras regulatórias e governamentais sejam menores. Ali tudo é testado e, quando tem sucesso, abrem caminho para a incorporação dessas soluções nos ambientes antes sem acesso. E aqui não é diferente.
Testar NFTs no mercado financeiro, imobiliário etc. é muito mais difícil e arriscado do que no mercado de arte e colecionáveis, por isso vejo esse setor fazendo os primeiros testes e, tendo alguns de grande sucesso como o Bored Apes, abre espaço para a incorporação dessa tecnologia e soluções no mercado mais tradicional.
O que vejo é que estamos agora nesse estágio. No estágio onde o mercado tradicional está testando, conhecendo e, em alguns casos, acelerando nessa direção. Questões de usabilidade de WEB3 versus WEB2 ainda se colocam, mas exemplos como o do Gotas.social, que permite você ter acesso a nfts através de sua conta no gmail, começam a endereçar esses aspectos.
Se NFTs de arte e comunidades como a Bored Apes vão morrer eu não sei, e até arriscaria dizer que não, mas que a grande transformação que nfts vai fazer a nossas vidas não será diretamente via eles isso eu consigo afirmar. Atenção aqui para o diretamente, pois como disse acima muito do que faremos com nfts terão suas raízes nesses testes.
Um outro ponto interessante é a medida de sucesso ser feita pelo valor alcançado por esses nfts e a medida de insucesso ser dada pela queda de preço. Seria esse o melhor fator para avaliar isso? Certamente é um dos fatores, então colocando em outras palavras, seria ele o único fator?
Fazendo um paralelo, quando mudei de São Paulo, tive que avaliar os bens que a transportadora estava levando e como não havia quase nenhum móvel, a maioria dos bens eram cadernos dos filhos, álbuns de fotografia e outras coisas que tinham um valor sentimental grande, mas que seria impossível de serem reproduzidas ou compradas, como avaliar esses bens? Um pouco dessa questão dos nfts de arte e comunidade tem a ver com isso. O senso de querer ter e/ou estar junto é difícil de ser quantificado em dinheiro, mas ao mesmo tempo o dinheiro aqui acaba tendo que ser esse fator balizador.
Voltando ao título desse artigo, o que me parece cada vez mais longínquo é que nfts não farão parte das nossas vidas em breve. Muito provavelmente de uma forma ou envolvido em algo que nem saibamos.
Portanto, se os NFTs morreram, longa Live aos NFTs. 😉
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*publicado originalmente na minha coluna da infomoney em 03.out.2023
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