💰 O melhor negócio de cripto — e talvez do mundo
Stablecoins geram bilhões de lucro com risco quase zero. Mas até quando isso dura?
Nos bastidores do mercado cripto, enquanto os olhos do público se voltam para o sobe e desce do Bitcoin, há um segmento que opera com uma previsibilidade quase inacraditável — e lucros impressionantes. Estou falando das Stablecoins. Mais especificamente, das empresas que as emitem.
Tether e Circle, as duas gigantes do setor, emissoras do USDT e USDC, respectivamente, encontraram uma forma curiosa de ganhar dinheiro num ecossistema que prega descentralização, inovação e ruptura com o sistema bancário tradicional. Ao emitir tokens que valem exatamente um dólar, elas capturam depósitos de investidores, fundos, traders e usuários comuns — e aplicam esse dinheiro.
O resultado? Um lucro enorme que faz muita gente se coçar de inveja.
Mas a pergunta que já ecoa em diferentes esferas — do regulador à concorrência, do legislador ao próprio mercado — é: até quando?
Tether: o maior lucro “per capita” do planeta
Em 2024, a Tether obteve um lucro líquido de US$ 13 bilhões — operando com aproximadamente 150 funcionários. Isso mesmo: algo em torno de US$ 85 milhões de lucro per capita.
Não há empresa no mundo com esse nível de resultado por colaborador. Nem Apple. Nem Google. Nem Nvidia. Em anos bons, o lucro per capita dessas empresas mal chega a US$ 1 milhão. Nada realmente se compara.
E o modelo é simples — quase simples demais para parecer real.
A Tether emite o token USDT, garante que ele vale 1 dólar, e com o dinheiro dos investidores compra títulos do Tesouro americano de curto prazo. Ganha os juros — hoje por volta de 5% ao ano — e entrega estabilidade para o usuário.
Para se ter uma ideia do tamanho disso, a Tether, se comparada com todos os países do mundo que compram títulos públicos americanos, teria sido o sétimo maior comprador em 2024.
A Circle, emissora do USDC, não fica muito atrás. Embora com menor participação de mercado e foco mais regulado, também viu seu lucro explodir com a alta dos juros nos EUA. Seus ativos sob gestão ultrapassam os US$ 60 bilhões, e com isso, a empresa também captura parte desse rendimento que, em tese, deveria estar “parado” — apenas lastreando o token. Para referência, no momento em que escrevo, a Tether tem pouco mais de US$ 140 bilhões em tokens emitidos.
Mas eis o ponto: esses fundos não estão parados. Estão rendendo — e muito.
A arte de ganhar sem risco (ou quase)
O modelo de negócio das stablecoins é quase um milagre financeiro: risco extremamente baixo (em teoria), volatilidade zero e retorno garantido enquanto o Fed mantiver os juros altos. Um tipo de carry trade de altíssima escala — mas com uma característica singular: não há custo de captação.
A Tether não paga juros aos detentores de USDT. Não precisa remunerar esses depósitos. É como um banco que só oferece conta corrente e paga zero de remuneração sobre o dinheiro que é deixado lá. Todo o retorno da aplicação dos fundos vai direto para o resultado da empresa.
E com a demanda por stablecoins crescendo, o bolo só aumenta.
Parece bom demais para ser verdade. E talvez seja mesmo.
Porque há uma variável nesse jogo que ainda não entrou com força: a regulação.
A hora da conta (regulatória)
Por mais que a narrativa seja cripto, as emissoras de stablecoins, na prática, operam como instituições financeiras. Captam dinheiro à vista, aplicam em ativos líquidos e carregam risco sistêmico — especialmente se houver uma corrida de saques ou perda de confiança.
O episódio com o Silicon Valley Bank (SVB), no início de 2023, mostrou isso claramente no caso do USDC. E a história do USDT também tem casos emblemáticos nesse sentido.
Hoje, essas empresas operam num vácuo regulatório.
A Tether, baseada nas Ilhas Virgens Britânicas. A Circle, criada pela Coinbase e depois segregada dela, tenta se aproximar de uma postura mais institucional e dialoga constantemente com reguladores. Mas a verdade é que nenhuma delas é formalmente um banco — e nenhuma segue as regulamentações típicas do mercado financeiro tradicional. E isso faz toda a diferença.
Se forem classificadas como instituições bancárias, serão obrigadas a cumprir requisitos de capital, liquidez e — o ponto mais sensível — compulsório sobre depósitos à vista.
Esse “se”, para muitos — eu inclusive — é mais um “quando”.
E isso muda completamente o jogo.
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Os caminhos da regulação: de meio de pagamento a banco pleno
Hoje, os modelos em discussão sobre como regular stablecoins se dividem, grosso modo, em dois caminhos:
1. Modelo “meio de pagamento” — stablecoins seriam tratadas como emissores de moeda eletrônica ou carteiras digitais. O dinheiro deve ficar 100% segregado, em conta garantida, sem rentabilidade para o emissor. Resultado operacional: zero. A empresa viveria de tarifas ou volume de transações.
2. Modelo “banco pleno” — a stablecoin se torna uma instituição financeira formal. Pode aplicar parte dos fundos, mas com todas as obrigações: capital mínimo, supervisão prudencial, colchões de liquidez, compulsório. Resultado: margem de lucro reduzida e vigilância constante.
Entre esses extremos, há variações — como regular como fundos de money market, onde os tokens seriam as cotas, ou parcerias com bancos já estabelecidos.
O que a Europa já está fazendo: o caso MiCA
Enquanto o mundo ainda debate, a Europa foi um dos que saiu na frente. A regulamentação MiCA (Markets in Crypto-Assets Regulation), aprovada pela União Europeia e em vigor desde 2024, trouxe regras específicas para stablecoins — classificadas como e-money tokens e asset-referenced tokens.
Segundo a MiCA, emissores de stablecoins lastreadas em moeda fiduciária (como USDT ou USDC) precisam cumprir exigências robustas de capital, governança, transparência e liquidez. Há limites de circulação para tokens não emitidos por instituições autorizadas e proibição de operação sem supervisão.
Todos os indícios aqui levam a uma conclusão inexorável: para continuar a atuar no mercado europeu, essas empresas têm que cumprir as regras, fazendo com que o lucros atuais se tornem pouco sustentáveis no longo prazo.
O que ainda sustenta esse modelo? A falta de alternativas. Por enquanto.
Stablecoins dominaram porque não havia alternativas reais no sistema cripto, e porque não dizer tradicional, para mover dólares com agilidade, liquidez e neutralidade. Elas se tornaram a camada base da liquidez cripto: em corretoras, protocolos DeFi, contratos inteligentes, pagamentos internacionais.
Mas essa vantagem tem outro agente correndo por fora. Os Bancos Centrais. Eles tem avançado com as CBDCs, seus sistemas de pagamento instantâneo tem melhorado, e o mercado cobra mais transparência de quem opera com substitutos digitais do dólar.
Além disso, o crescimento contínuo do volume negociado e emitido em stablecoins atrai atenção — e, com ela, regulação.
A integração entre cripto e finanças tradicionais, que venho acompanhando de perto, não apenas está acontecendo — está acelerando.
Modelos diferentes, futuros incertos
Circle e Tether seguem estratégias bem distintas.
A Circle parece cada vez mais comprometida com seu modelo de stablecoin.
A Tether, por outro lado, diversifica batante. Além de investir pesadamente no ecossistema, comprou o controle da AdecoAgro, uma das maiores empresas do agronegócio da América Latina, e investiu na Rumble, plataforma de vídeo e cloud.
O sinal é claro: elas estão se preparando para um novo cenário.
A pergunta que fica: até quando esse modelo se sustenta?
É difícil prever.
Pode durar meses. Pode ser questão de anos.
Mas a maré regulatória está claramente subindo.
E talvez, nesse novo ciclo, as stablecoins tenham que escolher entre continuar surfando lucros extraordinários…
ou se tornarem parte do sistema financeiro global — com todas as responsabilidades que isso implica.
Abraços,
Gustavo Cunha
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Links utilizados nesse artigo:
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