🤔 Por que vamos a eventos presenciais?
Uma reflexão sobre o que buscamos e o que estão nos entregando
Recentemente, em uma ida a São Paulo, participei como plateia de um evento presencial, algo que eu não fazia há tempos, e fiquei muito incomodado com a dinâmica do evento. Os painéis eram ótimos, com pessoas super capacitadas, mas funcionavam na dinâmica de uma pessoa coordenando e direcionando perguntas sobre um determinado tema para as outras duas ou três pessoas do painel, que respondiam e devolviam a palavra para o coordenador. Havia baixíssima interação no palco e na plateia.
Olhando para os lados via uma imensidão de pessoas de cabeça baixa olhando seus celulares e aquilo começou a me dar uma agonia enorme. Estava eu presencialmente em São Paulo, louco para interagir com várias pessoas que estavam ali e essa interação iria se limitar os escassos 10 ou 15 minutos de coffee brake que havia. Um desperdício e que me levou a pensar sobre a dinâmica de eventos atuais. Vamos a ela.
Eventos presenciais para mim não podem ser conteudistas. Tem que ser focados na experiencia de quem está lá presencialmente ou ao menos ter um foco no networking. Por mais especial que a pessoa que esteja falando seja, se for uma via majoritariamente única, prefiro ouvir/ver no conforto da minha casa, no dia e hora que melhor escolher, sentado confortavelmente, ou até enquanto corro no parque. A ideia aqui é que para só receber informação porque me deslocar para um evento presencial? O que quero do evento é o que não consigo ter online, ou seja, a interação, o networking, a experiencia. Estou errado nisso?
Não sei se isso sou só eu, mas ainda continuo vendo a parte de conteúdo sendo o principal driver para as pessoas se deslocarem para os eventos. Palestrantes tops, painéis com experts do assunto, é isso que nos atrai a um evento? Mas isso precisa ser presencial?
Aqui vejo dois pontos.
Eventos com ancoras conhecidos, isto é, palestrantes tops e renomados, tem uma coisa implícita de que serão eventos bons, entre outras coisas pelos valores gastos pelo evento para a contratação desse (a) palestrante e isso, por si só, já cria a vontade de estarmos lá. Mas por mais bizarro que isso seja, dado que estamos lá, o conteúdo que será distribuído tem que ter uma dinâmica diferente da que nos atraiu ao evento. Explico.
Se fomos atraídos por um mega economista, por exemplo, que vai dar uma palestra sobre economia eu esperaria alguma interação, que pudesse fazer perguntas, por exemplo. Senão volto no meu ponto de que eu preferiria estar vendo a palestra na TV em casa. E olha que se fosse LIVE via youtube até perguntas eu conseguiria mandar. E não vou nem falar do caso em que vamos para essa palestra mais para poder ter assunto para o café depois, já que todos resolveram ver, do que de interesse real nosso.
O segundo ponto é a minha dedicação de tempo para escutar/aprender esse conteúdo. Na vida mega atribulada que temos hoje o fato de nos dispormos a separar um tempo para determinada coisa tem um valor enorme e talvez, se o mesmo conteúdo fosse feito online e estivesse disponível para eu ver quando quisesse eu nunca o veria, pois nunca conseguiria me organizar para ter aqueles minutos ou horas para destinar a isso. Com um evento, me organizo. Talvez o forte do conteúdo nos eventos presenciais seja o fator de ajudar as pessoas a se organizarem para consumirem aquele conteúdo?
Agora pensando pelo lado do palestrante, onde estou muitas das vezes, toda essa discussão traz uma dificuldade muito maior do que ir lá participar de um painel ou fazer uma apresentação baseada em uma série de slides.
Lembro-me que dá última vez que fui a Araguaina-To, cidade onde passei parte da minha infância, e onde, sempre que volto faço questão de fazer uma palestra na escola onde estudei. Nessa ocasião, eu tinha uma apresentação preparada sobre com Blockchain e AI estavam alterando o nosso mundo, mas depois de passar por Brasília em um evento no mesmo estilo do que descrevi no início, decidi mudar tudo. Já avisei no início para irem pensando em perguntas que eu iria falar 5 minutos sobre o assunto e depois iriamos para a sessão de perguntas. Se não houvesse perguntas em 5 minutos todos iriamos para casa. Foi uma interação muito maior do que as últimas duas vezes em que eu fiz palestra lá. Veio uma chuva de perguntas e que para mim foi não só muito mais prazeroso como me trouxe insights interessantes e importantes sobre o que precisava focar a ajustar. Fosse eu fazer uma palestra conteudista seria pouco diferente do que uma LIVE que tinha feito dias antes para o canal do Youtube da Fintrender.
Aqui vale um ponto que é a facilidade com que interajo nessas situações hoje em dia. Depois de mais de 6 anos de gravações, entrevistas e LIVEs já sei improvisar lidar com situações complexas de forma mais fácil. Entendo que muitos palestrantes não têm esse traquejo e isso os tiraria muito da zona de conforto, mas não seria esse o objetivo de se estar fazendo uma apresentação ou participando de um painel? Se saímos de um painel ou apresentação sem que tenhamos impactado as pessoas que nos viram/ouviram para que serviu o painel? Uma serventia muito comum é gerar conteúdo para mídia social, que tem seu fator positivo, mas há casos de exacerbação exagerada.
Para encerrar o ponto, falando com um amigo sobre isso, ele me falou sobre o caso de um palestrante (Dado Schneider) que criou uma palestra sobre mudança chamada Muda, onde ele subia ao palco e fazia uma palestra muda, sem falar nada. Utilizando-se de música e slides com palavras, ele conseguia reter a atenção e passar sua mensagem. E todos adoravam. Virou um hit nacional! Veja aqui e depois me diz se não é espetacular a ideia? E é disso que estou falando. Uma palestra muda requer interação, requer um trabalho do palestrante para engajar, interagir e informar. Três alicerces que já comentei aqui algumas vezes e que tem que estar presentes no grande escopo de educar. Engajar, Interagir e Informar!
Caso alguém tenha outros exemplos nessa linha por favor não deixe de comentar. Estou no momento fazendo vários estudos para tentar mudar/criar formas de interagir diferentes para minhas palestras futuras. Com o lançamento do livro, as demandas para palestras e eventos tem aumentado consideravelmente e quero aproveitar o momento para criar um modelo mais interativo e melhor de palestra.
E para finalizar, deixo algumas perguntas para pensarmos. As primeiras direcionadas a quem organiza eventos: Por que focar em conteúdo? Não há melhor forma de atrair as pessoas? Não deveria focar em mais interação e melhor experiencia de quem vai ao evento? Não há outro atrativo para chamar as pessoas ao evento? E se conteúdo ainda é o atrativo, como balancear essa dicotomia de que o que atrai as pessoas pode não ser o que elas realmente vão querer ver/consumir?
Para quem palestra: aqui a regra é fácil, se o que vai lá falar/fazer no presencial pode ser dito/feito online de maneira muito similar, tem algo errado. Pense em uma forma de aproveitar o fato de estar lá fisicamente. Interação. E foco nas três palavras magicas que devem estar balanceadas: Engajar, Interagir e Informar.
E para quem vai no evento: caramba, que perda de tempo ficar lá vendo algo que poderia ver online em casa quando quisesse. Se organize para consumir conteúdo online de forma consistente e veja o evento presencial como a melhor forma de interagir com pessoas que tem os mesmos interesses que você e você ter experiências diferentes. Ou aproveite para publicar fotos nas mídias sociais que está lá e curtindo, e assim talvez alguém veja e saiam contatos pessoais futuros! 🙃
Abcs,
Gustavo Cunha
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Poxa entendo oque está dizendo como alguém que atualmente faz transição de carreira para blockchain vejo nesses eventos oportunidades únicas de falar com pessoas que tem o mesmo interesse e ainda muita experiência, e faço justamente isso que disse, tiro o máximo de proveito do network e ainda se possível tiro aquela foto para lembrar que estive em um evento fantastico com pessoas incriveis .
Faz muito sentido questionar a dinâmica dos eventos atuais. Concordo muito contigo sob o aspecto de assistir o conteúdo do evento de forma online se for apenas uma exposição sem nenhuma dinâmica com o público. Abrir para perguntas é essencial.
Eu acredito que os painéis de debate são muito bons e ricos quando o mediador sabe como conduzir. Mas tenho visto muitos eventos onde o mediador não age como mediador, mas sim como mais um dos painelistas, por vezes tomando mais tempo doque os próprios debatedores.