Começando a fazer o balanço do ano de 2023 para a Fintrender, uma coisa me saltou aos olhos e ao mesmo tempo me deu um pouco de preocupação. A quantidade de coisas que faço hoje aumentou exponencialmente e a estrutura que tenho se manteve praticamente a mesma. A surpresa veio da quantidade, a preocupação vem da qualidade. Será que consegui ser tão mais produtivo assim? O que me ajudou? Será que isso foi ao custo de uma menor qualidade? Será que se focar em menos iniciativas não seria melhor? Vamos à reflexão.
Para iniciar, como já tenho discutido muito por aqui, o mundo de abundância em que estamos está sempre pedindo para fazermos mais: mais posts no Instagram, começar naquela nova plataforma que está bombando (TikTok?), fazer 2 Lives ao invés de uma, produzir newsletter diária ao invés de semanal, só para citar alguns exemplos ligados ao meu dia a dia, mas não tenho dúvidas de que você consegue vir isso no seu dia a dia também. O ponto é que chega uma hora em que menos é mais. No campo pessoal chega, por exemplo, uma hora que você tem que largar o Instagram para cuidar da sua família, filhos, cachorro ou interagir com alguém no campo pessoal. Não tem como fugir. Ainda não conseguimos “desacoplar” desse corpo que nos pertence.
Ou será que já conseguimos? Em uma palestra recente do Harari, ele faz uma provocação interessante: O adolescente que passa o dia jogando no computador com seus amigos virtuais é um “excluído” da sociedade ou uma pessoa que já conseguiu suplantar os limites do seu corpo atual? Para pensarmos.
Voltando ao ponto sobre fazermos cada vez mais, acredito que aqui tenham dois fatores que afetem. O primeiro é a necessidade de estarmos sempre fazendo parte de um grupo e seguirmos o que esse grupo faz, e aí as mídias sociais e seus algoritmos são cruéis e nos pedem sempre mais e mais. Não é à toa que o nível de ansiedade dos mais jovens, que estão mais conectados nesse mundo, até porque já nasceram com isso, é muito superior ao das gerações anteriores que tiveram que se adaptar a esse mundo, e tem experiencia e convivência de um período em que a internet não existia. Essa necessidade de fazermos parte sempre nos incita a copiarmos comportamentos. Queremos ser diferentes, mas iguais.
O outro ponto é a imensa facilidade de produzirmos coisas. Seria inimaginável há 15 anos atras que eu conseguisse fazer na Fintrender o que faço hoje, e/ou que você conseguisse fazer o que você faz hoje. Impossível. Capacidade computacional, velocidade da internet, acessibilidade, além das inúmeras ferramentas que não existiam há 15 anos são apenas alguns dos exemplos de coisas recentes que aumentaram e muito nossa produtividade. E vou lhes dizer outra coisa: Isso só está acelerando. Imagina o que poderemos fazer em 15 anos. 🤯
Quantidade nem sempre está acompanhada de qualidade. A imensa facilidade e “cobrança” para que produzamos mais e mais pode vir com a queda de qualidade e daí, mais vira menos. Duas preocupações que sempre tive na Fintrender e que aconselho todos terem. A primeira é que a maioria do que eu faça seja intelectualmente desafiante para mim. O que quero dizer com isso, é que não seleção do tema e quem será o entrevistado da semana, por exemplo, quero escolher quem me agregue conhecimento. Esse conhecimento pode vir em forma de conteúdo mesmo ou até da forma como a pessoa explica, dá exemplos. Tendo feito mais de 200 entrevistas nos últimos 5 anos confesso que foram poucas as vezes onde eu não consegui extrair algum aprendizado da conversa. Interações humanas, quando estamos abertos a aprender e escutar é uma forma muito eficaz de aprendermos.
A segunda preocupação tem a ver com a profundidade com que trato cada assunto. Tenho uma tendencia a ir fundo, zerar todas as dúvidas e as vezes entrar por um caminho técnico demais, o que nem sempre é o que o publico que acompanha quer saber. Ao mesmo tempo deixar questões que porventura não tenham resposta é importante para que ninguém fique com a impressão de que isso ou aquilo é 100% preciso (pois não é). Essas reflexões que comecei a escrever em maio de 2023 são um exemplo claro disso. Me ajudam muito a organizar o pensamento, mas muitos dos pontos são inconclusivos. No início isso me causava uma ansiedade enorme. Hoje já me acostumei e tenho adorado o espaço que o fato de não ter conclusão abre para interações com você que que está lendo.
Uma das coisas que sempre me acompanha na minha forma de pensar é buscar extremos para ver até onde os argumentos, soluções, discussões podem ir e agora me lembrei de uma trilha que fiz há uma semana rumo a uma vila abandonada em Portugal, a vila de DRAVE. A vila que tem por volta de 30 casas de xisto foi abandonada por seu último habitante em 2009 e a trilha de quatro quilômetros até lá é de uma beleza única.
Mesmo considerando isso, o que mais me surpreendeu foi o fato de que ela começa em outra vila, Regoufe, que fica há 1:30 da cidade do Porto em estrada asfalta. Na rua principal dessa vila, que deve ter por volta de umas 20 casas habitadas em uma ladeira de uns 100 metros, todas as casas têm no térreo a presença de animais. Isso mesmo, vacas, cabras etc. E as pessoas moram na parte de cima da casa. No térreo ficam os animais, no primeiro piso as pessoas. Todos os dias os animais vão para os campos pastarem e voltam para dormir nas casas.
Essa forma de viver era muito comum há décadas atras porque o calor gerado pelos animais embaixo da casa deixa a área onde as pessoas vivem mais quente e confortável. Agora isso acontecendo em 2023? Pois é! E essa vila tem energia elétrica, internet, água encanada etc. Mas as pessoas de lá, aparentemente vivem como viviam há 100 anos atras. Em uma cidade que fica há menos de 100 quilômetros da cidade do Porto em Portugal, ou seja, na Europa.
O que isso tem a ver com a questão de quantidade e qualidade? Boa pergunta. O ponto que vejo é que temos que trabalhar com inúmeras perspectivas quando estamos falando de pessoas. Cada uma tem o seu objetivo e sua necessidade. Se o mundo atual nos pede para estarmos sempre aumentando nossa produtividade e produzirmos mais, temos que colocar isso sempre em perspectiva.
Está errada a pessoa que vive em Regoufe da mesma forma que os seus ancestrais viviam há 100 anos? Será ela mais feliz do que nós que estamos nessa corrida desenfreada para sempre fazer mais e melhor? O que queremos da nossa vida? Temos mesmo sempre que buscar produzir mais ou é importante períodos em que regressamos à nossa origem? Será esse livre arbítrio o que nos faz humanos?
Perguntas que ficam ecoando e para as quais não tenho resposta (ainda?).
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