➡️ Da Tesouraria ao Bitcoin
10 anos fora do mundo corporativo. Uma jornada de autonomia, aprendizado e reinvenção
Nesse maio de 2025 faz 10 anos que tive minha última atuação no mercado corporativo. Em maio de 2015, encerrei um ciclo de quase 25 anos ininterruptos de posições corporativas em assets e bancos. Norchem, Sudameris, CCF, HSBC, Santander e Rabobank foram alguns dos nomes de bancos que trabalhei durante esse extenso período.
Foi uma carreira linda, de enorme aprendizado e porque não dizer sucesso, já que subi até a posição de diretor de tesouraria, capital markets e trade finance de um banco internacional. Mas o que quero discutir aqui é o que veio a seguir. Os últimos 10 anos da minha vida e os aprendizados que tive e que acredito ter valor para todos que me leem.
Quem acompanha meus textos sabe que adoro usar exemplos para tudo. Acho uma forma fácil de comunicar e fazer com que todos visualizem os pontos que quero enfatizar e aqui não será diferente. A diferença é que os exemplos a seguir são muito pessoais e alguns não tão confortáveis de dividir, mas vamos lá.
Bem, a começar pela minha saída do banco. Hoje, vejo que foi um caso clássico de autossabotagem. Eu não estava feliz lá. Uma semana antes de sair do banco tive minha, praticamente única, noite sem conseguir dormir. Daquelas de ficar olhando o teto e com os pensamentos longe, perdidos. Difícil descrever, mas, vendo hoje, aquilo já era um indício de que eu sabia que algo iria mudar.
Para quem nunca havia sido desligado de um emprego em quase 25 anos, sempre escolhendo ir de um lugar para outro, a decisão tomada, majoritariamente pelo banco, de que eu deveria sair foi uma surpresa enorme para mim. Eu tinha a vida corporativa e o banco quase que como uma família. Já estava lá há mais de 8 anos e acreditava, muito ingenuamente, de que éramos uma família. Erramos todos, discutimos, não concordamos, mas permanecemos juntos.
Bem, aqui vem o primeiro aprendizado. Vida corporativa é vida corporativa e somos essenciais até o momento que não somos mais. E foi assim que ocorreu. Numa sexta-feira, eu era o diretor do banco, em uma segunda à tarde já não era mais.
Aqui valem duas observações. A primeira tem a ver com a tomada de decisão de sair. Ela foi minha? Não. Ela foi só do banco? Também não. E isso acontece muito em cargos mais altos. Acaba sendo uma saída acordada, dado todos os interesses, bônus retidos, informações que temos etc. Mas isso não quer dizer que essa decisão não partiu primeiro de uma das partes. Vejo como um casamento que vai acabando com o tempo. Vai indo até que alguém toma a iniciativa de iniciar o processo.
A outra observação tem a ver com alguns anos antes e que será importante para vocês entenderem um pouco do que descrevo mais à frente.
De um dia para o outro, saí, de head da trading, uma posição de gerente da parte de trading da tesouraria, com, na época, seis pessoas respondendo para mim; para diretor da tesouraria e parte do management team do Rabobank Brasil. Era eu, a mesma pessoa, mas a atitude de muitos perante a mim mudou, e muito.
Eu podia sentir que todos me viam diferente, me tratavam diferente. Uma sensação boa, mas ao mesmo tempo incomoda. Eu era o mesmo, mas as relações estavam mudando. Um caso emblemático era na festa de fim de ano. Até o ano anterior, eu me divertia com todos, ia embora tarde, curtia a festa. Depois que me tornei diretor, eu percebia que a festa estava meio que esperando eu ir embora para começar. Uma sensação bem estranha. Ia embora e no dia seguinte ia falar com as pessoas mais próximas para perguntar como tinha sido.
Seguindo, saí. Deixei de ter a estabilidade financeira que o salário e bônus me traziam. Tirei uns dias para esfriar a cabeça e entender melhor o que queria fazer. Falei com algumas pessoas especificas para me aconselhar e montei uma lista de várias pessoas com quem queria falar. Algumas me deram conselhos interessantes, outras queriam mais se aproveitar das informações de bastidores e outras informações que eu tinha sobre o banco, como eu já esperava.
Uma das surpresas para mim veio de muitas pessoas do banco mesmo. Algumas que eu entendia como sendo amigos e que me evitaram muito após minha saída. Havia pessoas com quem eu falava no Brasil e fora praticamente todos os dias, e que após eu sair do banco nunca mais tive contato. Eu realmente não esperava isso, mas é o que é e segui a vida. O aprendizado aqui vem de entender como as pessoas estão te vendo. Como um crachá ou como uma pessoa. Não que seja fácil de identificar, mas vale ficar esperto.
Bem, qual a coisa mais difícil nas semanas iniciais? Foi chegar em um prédio para fazer cadastro de entrada e quando faziam a pergunta:
Gustavo de onde?
Nas primeiras 10 vezes era uma gaguejada sem fim… até que comecei a responder: Gustavo, particular, ou Gustavo, só Gustavo mesmo. Até hoje, tenho birra de alguns sites que pedem seu e-mail corporativo para baixar alguns conteúdos, não aceitam o gmail, por exemplo! Isso certamente vem daí.
Bem, prosseguindo, fiquei quase 6 meses tentando entender o momento e ver o que fazer. O mercado financeiro não estava em um momento muito promissor e achar uma posição similar não era fácil, e não aconteceu. Tentei migrar para uma posição em empresas, mas também não rolou e por fim me juntei a uns amigos para criar a Gorila, na época com a ideia de ser uma fintech consolidadora de investimentos, que vinha na esteira do sucesso do Open Banking na Inglaterra, e do Guiabolso, que estava tendo um sucesso enorme na consolidação de conta corrente e controle financeiro no Brasil.
Na teoria, a ideia era ótima, ainda mais em investimentos, já que, tirando fundos de investimentos, a B3 já consolidava praticamente tudo e tinha já um acesso para todos os CPFs, via um sistema chamado CEI – Canal eletrônico do investidor. Era só convencer a B3 que, com o cliente dando a autorização, eu poderia acessar aqueles dados e tratar.
O problema estava nesse “só”.
Na minha primeira reunião com a B3 para discutir isso, o diretor da área me chama de lado e me diz que havia ainda uma discussão interna sobre se o dado em questão era do cliente, e, portanto, ele poderia cedê-lo para nós, ou se era proprietário da B3 😮. Aqui, voltei umas 10 casas no tabuleiro e percebi que teríamos muito mais trabalho para ter esses dados até que o conceito de open banking estivesse instalado e regulamentado no Brasil (o que foi acontecer em sua plenitude somente após 2022, ou seja 6 anos mais tarde).
Tentamos de outras formas obter esses dados, mas a coisa não era fácil e vinha com muitas falhas. Em determinado momento, vi que iríamos ficar batendo cabeça por muito tempo e resolvi deixar o projeto. Meus sócios continuaram.
Mas esse período de quase um ano na Gorila foi crucial, não somente pelo descrito acima, mas pelo fato de que uma das pessoas de tecnologia que estavam lá comigo tinha vindo do Mercado Bitcoin, na época a maior Exchange de crypto do Brasil, e me explicou, um determinado dia, como o bitcoin funcionava e que havia uma arbitragem de mais de 20% entre o preço onshore (no Brasil) e offshore (no exterior). Para um trader como eu, isso parecia impossível de acontecer em 2017. Uma arbitragem desse tamanho!
Para comprovar isso, ele pegou USD 100 que tinha em uma Exchange nos USA, comprou bitcoins, mandou para o Mercado Bitcoin e fez 20% a mais, em reais, do que se tivesse feito câmbio pelas vias tradicionais. E melhor, fez isso em 1 hora! 🤯
Caixa de pandora aberta.
Vamos entender melhor isso. Achar um advogado para me resguardar de que não havia risco de crime de lavagem de dinheiro e algum curso para entender melhor esse tal de bitcoin.
Achar material para estudar não foi fácil, mas encontrei um indiano de tecnologia, que devo ter entendido uns 10% (seja pelo conteúdo mega específico, seja pelo sotaque dele) e um curso na Udemy de um professor de Princeton. Depois, pequei um valor financeiro equivalente de um curso e fiquei testando. Lembro que, ao fim de uma semana, esse valor tinha caído 40%. Taxas altas de corretagem da época, envio para chaves públicas erradas foram algumas das besteiras que fiz. Mas aprendi.
Trabalho mais difícil foi encontrar um advogado que entendesse de crypto e das leis cambiais. Quase um mês até achar um que conseguiu, por semelhança com outros ativos, me criar uma tese de que, o que eu faria, seria compra e venda de commodities. Era só fazer e recolher o carne leão do IR todo mês. E aí comecei. Foram dias mega divertidos de arbitragem em um mundo paralelo ao mercado financeiro na época. Lembro de duas situações engraçadas aqui
Uma de ir para um bar com amigos discutindo política e inflação e eu não ter ideia do que estava se passando. Ficava quase o dia todo trancado no escritório fazendo as arbitragens entre onshore/offshore. Se crypto hoje em dia ainda tem um operacional muito ruim, imagina em 2017. Era um mundo paralelo.
A outra foi quando comecei a conversar e postar sobre esse mercado, e um amigo, um certo dia, me chama para almoçar, para me dizer que eu tinha uma imagem a zelar, que eu havia sido diretor de banco, e que não podia ficar divulgando esse negócio de bitcoin, que isso era coisa de bandido. Tentei convencê-lo do oposto, mas sem sucesso. E segui. Hoje ele percebe que estava errado e vem me perguntar muitas coisas sobre esse mundo!
No final de 2017, essas arbitragens acabaram. Dizem que um grande banco no Brasil conseguiu uma forma de fazer esse fluxo, e o que era 20%, de um dia para o outro, caiu para menos de 5%. Não cobria nem os custos de transação na época. Acabou a festa, como era de se esperar. Desde o começo parecia muito bom para ser verdade.
Bem, mas após essa experiência, esse mundo se abriu para mim. Começa aí minha transição do mundo financeiro tradicional para o mundo Crypto. Há muitas histórias aqui também, mas vou encurtá-las senão vira uma biografia (se é que já não virou).
Comecei a fazer entrevistas pela Infomoney e depois migrei para o Youtube. Criei a Fintrender, investi em algumas startups de crypto, virei conselheiro de outras. Criei um curso, escrevi um livro, fiz inúmeras palestras e do ponto de vista pessoal, consegui, junto com minha esposa, executar um desejo que sempre tivemos, que foi o de dar uma experiência internacional para os nossos filhos. E o que era para ser de um ano, se transformou em 7 anos já fora do Brasil.
Meu trabalho hoje é praticamente remoto e posso executá-lo onde eu estiver. Ele tem a constância de recebimentos mensais que tinha na vida corporativa? Claro que não. Menor previsibilidade de receitas é um dos fatores diferentes de estar fora do mundo corporativo. Outro ponto importante é, por ter escolhido uma carreira mais solo, não ter diretriz global ou local, chefe, metas etc. para te direcionar. No entanto, se você não fizer um sistema para tê-las, ou resolver parar por um tempo, tudo para. Você tem o tempo todo que estar puxando e empurrando o barco.
No fim das contas, acabei descrevendo mais minha trajetória do que os aprendizados em si. 🫣 Mas talvez seja isso mesmo. Porque a trajetória, quando vivida com consciência, descrita e analisada, traz ensinamentos potentes e que cada um tira por si. Se esse texto te fez refletir, já valeu. Estamos juntos nessa jornada de aprender, experimentar e, acima de tudo, ensinar.
Abraços,
Gustavo Cunha
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Muito bom ter compartilhado sua experiência, passo por esse momento após 25 anos no mercado imobiliário.