No último mês de março completei meus primeiros cinquenta anos de vida que foi bastante comemorado e vivenciado com vários amigos e parentes, e que me fez retornar a pensar sobre o tempo e sua noção ao longo desses anos.
Lembro-me como se fosse ontem, quando era ainda adolescente, que o tempo era algo bastante escasso. Muita coisa para fazer, inúmeros eventos para ir, amigos a conhecer, aulas, estudos e tudo mais que os adolescentes fazem. Não tinha tempo para nada. Uma frase comum que falávamos entre os amigos era de que faltava dia para fazer tudo o que queríamos e achávamos necessário fazer.
Daí você começa a trabalhar, encontra a pessoa com a qual quer construir uma família, e o tempo continua a estar bastante escasso, mas já mais administrável. Seja pela maturidade que conseguiu, seja pelo fato de os planos começarem a ser feitos juntos e o conforto que isso dá, realmente parece que aquela sensação de que falta dia para fazer tudo ficou para traz.
Até que chegam os filhos. Muita coisa a aprender, situações inesperadas, o cuidado necessário com os bebês e a sensação de que falta dia volta à tona. Tudo se desorganiza com a chegada deles. Principalmente do primeiro. No segundo a situação já está mais sob controle. E no terceiro, o que não foi o meu caso, dizem que já está tudo 100% sob controle. Será?
Passa um tempo, os filhos crescem, e quem vira adolescente são eles e parte da sua falta de tempo começa a ser presenciada por nos agora como expectadores e não mais personagem principal. E do nosso lado o tempo começa a passar mais devagar. Nós já temos consciência do que queremos ou não, gostamos ou não, e isso faz com que experimentemos menos, arrisquemos menos. Frases como: já não tenho mais espaço para novos amigos, que preguiça de sair nesse frio para ir jantar fora e “vixe”, vou ter que alugar roupa para essa festa a fantasia, começam a ecoar com mais força.
Aqui cabe um parêntese para os perfis das pessoas. Eu sempre gostei de fazer parte de um grupo. A vibe e energia positiva de uma festa animada e de estar cercado de pessoas em uma situação de felicidade me enchem de alegria. Eu sou bastante afetado pela “energia” do ambiente onde estou e ficar em lugares e situações deprê me afetam bastante. Talvez por isso eu sempre faça questão de estar em todos os momentos de felicidade possíveis. Festas, nascimentos, casamentos etc. Apesar das frases citadas acima passarem pela minha cabeça eventualmente, a imagem da felicidade desses momentos são força suficiente hoje para calá-las e me fazerem ir, mas tenho plena consciência de que isso afeta de outra forma outros perfis de pessoa.
Voltando ao ponto sobre o tempo, olhando para meus pais, vejo que eles hoje têm o conforto de ter tempo a disposição para alocarem como quiserem, e cada vez mais me convenço de que daqui para a frente terei mais e mais a percepção de que terei mais tempo também. By the way, tenho a felicidade de ter os dois pais com ótima saúde, disposição e iniciativa para cruzar o atlântico e vir passar comigo essa comemoração dos meus 50 anos. 😊
O fato de eu trabalhar praticamente sozinho e não fazer parte de uma empresa ou estrutura também ajudam nessa percepção de que o tempo estará cada vez mais disponível, já que não tenho todo aquele aparato institucional de hierarquias e egos para lidar. Gasto de tempo por gasto de tempo? Empreender tem dessas coisas e a alocação de tempo, velocidade e direção ficam totalmente ao seu controle.
Morar fora da cidade onde sempre vivi e onde estão meus amigos de longa data também favorece essa percepção. As relações a amizades feitas durante a adolescência, quando experimentávamos, e fazíamos coisas que só quem estava lá presenciou, certamente fez com que nos conhecêssemos mais profundamente e criou laços de amizade e confiança bastante profundos e que perduram. Quem te conhece melhor do que esses amigos?
A pergunta que fica é o que fazer e como alocar essa “sobra” de tempo, um item que é linear e constante, mas que tem na nossa percepção uma outra dinâmica. Virar especialista em séries da Netflix? Leitor assíduo de todos os jornais e revistas? Ler inúmeros livros que nunca tivemos tempo para ler? Oportunidades são muitas, mas quais são as que vão valer a pena? Qual brilhará nossos olhos? Qual será encaixada e nos trará novamente a “falta” de tempo e a sensação de felicidade por isso?
Para mim, dado o meu perfil, qualquer que seja a opção, ela envolverá interação e contato com pessoas. É na interação e trocas de onde emana a felicidade e é o que buscarei no futuro.
Chegando ao final desse texto uma outra reflexão me aparece e é sobre mudanças que temos que fazer na nossa vida, motivação e a palavra mágica: propósito. Qual nosso propósito talvez seja a linha mestra que definirá em certo ponto das nossas vidas para onde alocaremos o tempo. Mas aí já vem outras inúmeras perguntas sobre isso. Motivo para uma nova reflexão em breve.
E você? Concorda com essa minha perspectiva? Em que período está? Tem hoje a sensação de que falta dia ou que sobra tempo?
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Ano passado tb passei por essa transição para 50 anos, e pensava que ao chegar nesse período da vida quando jovem que minha vida estaria mesmo mais tranquila, mas como você coloca muito bem, ainda mais quando temos filhos, são mais pessoas que fazem parte da nossa vida, e responsabilidades acumulam. A maturidade nos dá a vantagem de saber o que e quem devemos priorizar, mas qdo somos curiosos meu amigo, como é dificil a tentação de querer aprender e conhecer mais a cada dia.