Será Real Yields o santo graal de DEFI ?
Um modelo que alinha usuários, investidores e provedores de liquidez pode estar no centro da grande transformação de DEFI
Um dos conceitos que vem ganhando corpo em crypto, e mais precisamente em DEFI, é o conceito de Real Yields (ganhos reais), que envolve o protocolo devolver para os usuários parte dos resultados que são gerados por ele. O conceito não é muito diferente do conceito de uma ação que pague dividendos, a diferença está no modelo de negócios e em esse “dividendo” ser definido em código.
Um dos protocolos que está encampando essa nova tendência é a GMX, protocolo de derivativos que está nas redes Arbitrum e Avalanche. Os resultados da plataforma podem ser auferidos pelos investidores de duas formas, via a compra do token de governança deles (GMX), que recebe 30% da receita de toda receita da plataforma ou via provedor de liquidez, comprando o índice GLP para onde vão 70% das receitas da plataforma. Além disso, no caso do GLP há um ganho/perda relativo aos trades feitos contra esse pool, se são ganhadores o GLP, e o provedor de liquidez dele, perdem, se perdedores, o pool ganha.
O conceito em si não é de todo novo. A uniswap já remunera os seus provedores de liquidez via distribuição para esses da receita gerada pelo pool de liquidez que estejam investidos. A diferença desse movimento é que ele distribui a receita da plataforma não somente pelos provedores de liquidez, mas também para os detentores do token da plataforma. No caso da Uniswap não há relação direta entre a receita da plataforma e o token de governança UNI.
Os efeitos positivos desse tipo de incentivos são muito grandes, e mais ainda em um momento em que está todo mundo buscando apostas mais seguras e geradoras de caixa. A performance da ação da Apple, que é amplamente geradora de caixa, vis a vis os seus pares em tecnologia (alphabet, meta, Microsoft...) é um exemplo claro desse momento.
Real yields gera um alinhamento muito importante entre o usuário, o provedor de liquidez e o sistema de governança, ou seja, a ideia de que você pode utilizar a plataforma, ser cada vez mais seu “dono” e ser remunerado por isso esta muito presente e é uma tendência muito forte em cripto, onde vemos cada vez mais esses agentes se misturando.
O que é curioso nesse mecanismo é que quando penso em investimento em cripto tenho claro que estou investindo em uma startup, que podem ter um potencial enorme, mas com risco equivalente, e nesse tipo de investimento o que é comum se ter é um grande consumo de caixa no inicio que, se tudo der certo, se reflete em um aumento do preço das suas ações no futuro. Aqui em real yields esse conceito se altera. O investimento no token de governança, que guarda muita similaridade com uma ação, já começa a receber “dividendos” associados à utilização da plataforma logo no começo, o que não é esperado em um investimento em startups no mercado tradicional.
Alguns críticos diriam que isso faz com que a exponencialidade dessas plataformas seja menor, pois esse dinheiro não está sendo reinvestido para que a plataforma fique cada vez maior e adquira novos usuários. Ledo engano. Em uma startup um dos índices mais importantes é o CAC (custo de aquisição de clientes) e, no caso de real yields, esse custo é bem baixo, já que ele está associado ao sucesso da plataforma e sua utilização e não a um gasto direto em outras formas de se adquirir clientes. Em relação ao desenvolvimento da plataforma, o grupo de founders, sempre tem uma posição no token de governança, o que faz com que eles também sejam remunerados com os ganhos da plataforma, além de terem o ganho de longo prazo do token de governança.
Esse modelo tem se mostrado muito efetivo em conseguir atrair e, até o momento, manter novos usuários e ter os incentivos da plataforma alinhados em todos os níveis: usuários, investidores, provedores de liquidez, desenvolvedores, etc. e me parece que isso é só o começo. Já escuto de alguns lugares que alguns protocolos de DEFI mais antigos e consolidados já estão discutindo como alterar o tokenomics dos seus tokens para esse modelo.
Uma das discussões presentes também tem a ver como se mede o sucesso de uma plataforma de DEFI. O índice mais comumente utilizado TVL (total value locked) tem se mostrado pouco efetivo, já que muitos episódios demonstraram que esse dinheiro alocado nos pools de liquidez flui muito rapidamente para protocolos que tenham incentivos de curto prazo maiores tão logo eles surjam. Para manter o dinheiro no seu protocolo, esse tem que continuamente aumentar os incentivos para que o dinheiro não migre para outro lugar, criando uma dinâmica perversa e insustentável no longo prazo.
Em real yields esse incentivo ao dinheiro ficar lá já está dado, pois quanto maior o sucesso, liquidez e movimento da plataforma, maior o ganho auferido pelo provedor de liquidez. A relação é direta e já está pré-definida.
Em relação a se TVL deveria ou não ser um dos índices relevantes para ser acompanhado nas plataformas de DEFI, minha interpretação é que aqui não há uma bala de prata ou índice único, e TVL compõe um espectro de índices que tem que ser observados para ver a progressão da plataforma. Outros importantes também são: entrada de novos usuários, quantidade de negociações, concentração de usuários, entre outros.
Olhando para o modelo de real yields uma coisa que é clara é que ele surge da experimentação de vários modelos que tentaram alinhar usuários, investidores e provedores de liquidez e que foram muito testados nos últimos anos. Será ele o santo graal que se procura em DEFI? Difícil dizer, mas que ele já endereça vários pontos que foram fonte de instabilidade nos modelos anteriores e que tem um grande potencial, isso não há dúvidas.
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Para seguir no tema:
Real yields como nova tendência em DEFI: ‘Real Yield’ Emerges As A New DeFi Trend - The Defiant
Alguns projetos que estão utilizando Real Yields: "Real Yield" Mania Has Hit DeFi. Here Are Five Projects to Watch - Crypto Briefing
*publicado originalmente na minha coluna da infomoney em nov-22