Em 2017, quando o mundo começou a ouvir sobre tokens e criptomoedas em um contexto mais amplo, muitos categorizaram imediatamente o assunto como um mero "hype", algo passageiro e até mesmo arriscado. Mas, como muitos fenômenos emergentes, o início tumultuado das criptomoedas mascarou sua importância estrutural e seu potencial transformador. O que se tornou evidente, especialmente após o anúncio da Libra pelo Facebook (agora Meta) em 2019, é que estamos à beira de uma transformação silenciosa, mas poderosa: a tokenização de ativos.
Para entender o cenário, é importante retrocedermos e explorarmos a natureza dos sistemas financeiros tradicionais. Historicamente, confiamos em intermediários - bancos, governos e grandes corporações - para realizar transações e armazenar valor. Este sistema, embora tenha funcionado até certo ponto, também é repleto de ineficiências, taxas e uma falta de transparência (O caso recente das Americanas que o diga). Com a chegada de Blockchain, o jogo mudou. Blockchain propôs um sistema descentralizado onde a confiança é estabelecida através da transparência e da imutabilidade dos registros e é nessa plataforma que os tokens trafegam e são peças importantíssimas para que funcionalidades propostas sejam atingidas.
No cerne da Blockchain, temos o conceito de tokens. Enquanto muitos ainda associam tokens apenas a criptomoedas como bitcoin ou ether, a realidade é muito mais ampla. Os tokens têm o potencial de representar qualquer coisa: propriedade de um imóvel ou veículo, uma ação de empresa, um serviço prestado ou até mesmo nossa identidade digital.
O potencial aqui é enorme. Imagine se comprar um imóvel fosse isento de toda toda a burocracia atual? Se fosse simplesmente você transferir um token representativo da propriedade desse imóvel? Ou, ao investir em uma empresa nos EUA, ao invés de ter que transitar pelo complexo ambiente de corretoras, bolsas e operações de câmbio, você simplesmente recebesse tokens que representam sua participação. Esta é a promessa da tokenização: tornar tudo mais transparente, eficiente e acessível.
Nesse processo, a possibilidade de termos menos intermediários devido à utilização de smart contracts que automatizam, dão segurança, transparência e facilitam a auditoria das transações se mostra bastante promissora no quesito segurança do sistema, diminuição de custos e maior acessibilidade.
Para entender melhor no que o mercado financeiro tradicional está se transformando temos que dar um passo para o outro lado da cerca, rumo a um ambiente não regulado, não permissionário e livre para que a inovação floresça como nunca. O ambiente de DEFI (finanças descentralizadas).
A tokenização e DEFI andam de mãos dadas. DEFI teve uma expansão enorme em conjunto com a criação e popularização das stablecoins de dólar, nomeadamente a USDT e a USDC. Em DEFI já existem soluções que viram de cabeça para baixo alguns modelos de negócio do mercado financeiro tradicional. Nele já é possível tomar empréstimos colateralizados a qualquer momento, montar um fundo de investimento com cotização diária (ou até menor se assim preferir) em minutos, investir em ativos de todo o mundo em um piscar de olhos a qualquer dia e horário da semana e até fazer pagamentos recorrentes a cada 15 segundos. Tudo isso viabilizado pelos tokens nativos das plataformas e a tokenização, ou seja, a representação de ativos digitais em redes de Blockchain. Para aqueles, que como eu, estão imersos neste universo, é evidente que a transição para um mundo dominado por tokens é um caminho já traçado e que é questão de “quando” e não mais de “se” vai ocorrer.
Alguns podem argumentar que esta é uma visão utópica, e que existem barreiras significativas para a adoção em massa dos tokens. Sim, desafios existem. Regulamentações, amparo jurídico e falta de entendimento são apenas alguns deles. Mas, assim como a internet passou de uma ferramenta obscura para uma parte essencial de nossas vidas, os tokens estão no caminho para se tornarem onipresentes.
Um ponto importante e que gosto desse paralelo com a internet é que, como já coloquei algumas vezes, são pouquíssimas pessoas no mundo que entendem como a internet realmente funciona, TCP/IP e por aí vai, mas a utilizamos todos os dias em nossas vidas. A tokenização vejo como um caminho similar, mas talvez que vá requerer mais entendimento nosso já que através de tokens temos mais possibilidades por conta do valor que ele pode ter. Essa é a migração de WEB2 para WEB3 que tanto se alardeia por aí.
Um outro aspecto da tokenização que não podemos deixar de explorar é que para que esse mundo de tokens e redes de Blockchain prospere é necessário que tenhamos nossa moeda tokenizada o quanto antes. O crescimento de DEFI após a introdução das stablecoins mais que reforça essa afirmação. E não é de se espantar que vários Bancos Centrais já estão experimentando via suas CBDCs. Além disso, grandes corporações estão cada vez mais investindo e implementando soluções baseadas em Blockchain. Tudo isso aponta para um futuro em que, consciente ou inconscientemente, usaremos tokens em nossas atividades diárias.
A jornada rumo à tokenização é, sem dúvida, empolgante e repleta de oportunidades. Para os que desejam compreender a fundo e se preparar para esse novo horizonte econômico, recomendo a leitura do meu livro "A tokenização do dinheiro: como Blockchain, Stablecoins, CBDC e o DREX mudaram o futuro". Nele, aprofundo-me nas nuances, desafios e potenciais desta transformação que está se iniciando.
Mergulhar no mundo dos tokens e da tokenização é mais do que apenas entender uma tendência tecnológica; é capacitar-se para o futuro das finanças e da economia. E à medida que esta transformação ganha ritmo, é essencial estar bem-informado e pronto para se adaptar. Estarei sempre aqui para compartilhar insights, análises e desenvolvimentos à medida que navegamos juntos por essa jornada transformadora.
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* Publicado originalmente no medium da Amfi.Finance em 14.nov.2023