💰"Xô" médio risco
Estratégias de investimento em um mundo de inúmeras possibilidades
Lembro-me como se fosse hoje quando li o livro “Axiomas de Zurich”, onde um dos capítulos é dedicado ao fato de que, se você quer ficar rico, tem que concentrar esforços e investimentos em poucos ativos/oportunidades. Isso vai contra tudo o que sempre fui ensinado como gestor, alocador, planejador financeiro... Na época achei o livro até engraçado e com uma pitada de ironia. Hoje, após anos de experiencia investindo para os outros e para mim, minha visão mudou bastante sobre isso. Vamos a ela!
Até quando eu trabalhava em tesouraria de banco o meu portfolio pessoal de investimentos sempre foi o de médio risco. Apesar de ter fatores como idade e uma renda contante, o que pelas lógicas das teorias de alocação me levariam a ter ativos de mais risco na minha carteira, eu sempre fiquei muito mais na renda fixa. Título público ou fundo DI mesmo! A razão era compreensível e lógica. Como o quanto recebia de bônus pelo banco dependia dos acertos que eu e minha equipe faziam nas apostas no mercado não fazia sentido “dobrar” a aposta e também investir com o meu dinheiro. Por que arriscar com o meu capital se eu era pago para arriscar com o dos outros e deixar o meu protegido na renda fixa? Totalmente compreensível, não?
Bem, quando sai do banco isso mudou. Virei empreendedor, a renda pelo meu trabalho virou uma montanha russa. Meses muito bons, outros nem tanto. E aí percebi que tinha que mudar minha estratégia de investimento.
E foi aí que os axiomas de Zurich começaram a martelar. Colocar todos os ovos na mesma cesta. Sair de posições medianas e com simetria ruim. Fui atras de entender melhor também as teorias dos Austríacos sobre moeda, as questões dos antifrageis, e muito mais. Foi nesse período também que fui apresentado ao Bitcoin e sua imensa volatilidade e pretensão de ser uma alternativa ao dinheiro fiduciário Estatal.
Uma sopa de informações, conceitos, conversas, muito diferentes das que eu tinha anteriormente nos ambientes de banco. Comecei a frequentar eventos onde, além de ser um dos poucos que não tinha formação em computação, era disparado um dos mais velhos. Ideais libertários e contra Estado se amontoavam nessas convenções e discussões. E eu lá, talvez naquele momento discordando mais do que discordo hoje, mas ouvindo, aprendendo, absorvendo.
E durante esse processo fui formulando algumas coisas na minha cabeça que hoje fazem parte da forma como invisto e que divido com vocês aqui alguns desse pontos.
O primeiro é sair das posições medianas. Hoje ou estou em algo que me dê uma ótima segurança ou em ativos altamente arriscados. Para ser justo, o que tenho são alguns meses de custos atuais em títulos do tesouro americano no que poderíamos chamar de reserva de emergência, mas talvez com um conceito mais amplo do que isso. Minha conta é ter nessa “caixinha” ao menos 1 ano dos custos meus atuais. Isso me dá segurança para que o restante esteja todo em ativos/estruturas de muito risco.
Vale colocar aqui que nesse período também mudei para Portugal, o que muda a moeda onde gasto e isso precisou ser ajustado. Sai com grande parte dos investimentos que tinha no Brasil para colocá-los em Dólar ou Euros. Como continuei com minhas atividades profissionais voltadas ao Brasil, e sendo pago por elas em Reais, esse fluxo já bastava de descasamento cambial. Aliás esse é um risco que nunca queremos correr: ter fluxo de entrada em uma moeda e gastos em outra. No caso dos recebimentos pelo meu trabalho isso fica mais difícil de ajustar, mas no caso dos rendimentos e moeda dos investimentos isso se ajusta e deve ser ajustado.
A pergunta que sempre faço para brasileiros nessa situação (morando no exterior) é se ele(a) se sentiria confortável em estar gastando em euro, dólar ou qualquer outra moeda e com investimentos na África do Sul, recebendo juros em Rand Sul Africano. Obvio que a resposta é não, já que África de Sul é um país emergente e que tem uma moeda bastante volátil. O mesmo se aplica ao Brasil quando moramos fora dele. A bem da verdade o exemplo que sempre usava era o da Rússia, mas com a guerra hoje não faz sentido usar esse país.
Bem, dado que a reserva de emergência está lá segurada, as caixinhas que se seguem vão para investimentos de alto (ou altíssimo risco). Aqui entra a influência das conversas com programadores anos atras. Descobri o Bitcoin por conta das arbitragens entre seu preço em dólar e reais nos idos de 2017. Lá havia um diferencial entre 15% e 25% entre os dois preços quando comparado com valor de troca das duas moedas (BRL/USD) no mercado financeiro tradicional. Era trocar USD por BTC em uma Exchange no exterior, BTC por Reais em uma Exchange brasileira e depois comprar dólar no mercado financeiro tradicional para mandar de novo esse dinheiro para o exterior. Era um mundo paralelo, que tinha muitos riscos: uma infraestrutura operacional extremamente precária e cara, mas que me levou para investir, estudar, entender e lecionar sobre esse mercado de inovação que ele trazia consigo.
Um mercado com riscos muito diferentes do mercado financeiro tradicional. Não só riscos de preços, mas também de custódia, intermediação, assimetria de informação, segurança digital etc. Casos como o da FTX e LUNA em 2022 que o digam. Mas também com oportunidades enormes de investimento e rentabilidade.
Como avaliar em que investir essa parcela de altíssimo risco era a discussão. Aí fui para o 80/20. 80% em operações com menor risco do ativo e maior risco de crédito ou infraestrutura. Tais como essa arbitragem que descrevi rapidamente acima, ou operações de compra de ativos a vista e venda futuro (conhecidas como cash & carry). Operações que alguns anos rendiam 25%, outros ficavam na casa dos 10%, mas consistentemente davam mais do que a taxa de juros comparada, ou seja, do dólar. Aqui o mote era diversificação. Diversificação de custódia, Exchange, ativos, futuros, tipos de operação etc.
O restante dos 20% vamos para o risco mesmo. BTC, ETH os principais e mais recentemente tenho pensado em diversificar um pouco em ETFs de ações de tecnologia mundial.
Um fator importante é que mudei também a forma como vejo investimentos em termos de prazo. Tirando algumas brincadeiras que faço com ordinals e runes atualmente nas quais o dinheiro investido é pequeno, e o giro de posição maior, meu horizonte de investimentos sempre visa algo como pelo menos 2 anos.
E vou contar para vocês o pior das minhas decisões de investimento enquanto mais novo. Em todos os lugares que trabalhei sempre havia uma previdência privada e ao entrar te perguntavam sobre se você queria que o dinheiro de lá seguisse a tabela regressiva ou progressiva de imposto. Uma com alíquota progressiva que vai até 27,5% e outra regressiva que começa em 35% e vai a 10% no prazo de 10 anos. Por volta de 5 anos é mais ou menos o break-even, onde tanto faz. Em resumo se for resgatar antes de 5 anos melhor a progressiva, se for acima de 5 anos melhor a regressiva. E qual eu escolhia sempre? A progressiva. 🫣 Decisão completamente errada do ponto de vista de previdência. Muito melhor se tivesse escolhido a regressiva no meu caso..., mas 10 anos? Muito tempo, ne??! Não gosto nem de pensar que essas decisões foram tomadas há mais de 20 anos...
As vezes erramos! O importante é aprender para não incorrer no mesmo erro e também contar essas experiencias. Assim você, leitor, quando estiver em situações similares poder refletir melhor sobre isso.
Tempo é um fator superimportante de investimentos e ter horizontes mais alargados e montar seu portfolio de ativos visando isso é importantíssimo. Pouquíssimos de nós temos como profissão cuidar de investimentos e ficar 24/7 ligado a tudo que acontece em economia, política, cripto, guerra e todos os fatores que afetam o preço dos ativos. Então melhor fechar uma estratégia que esteja em linha com o que você espera do mundo nos próximos anos e que esteja também resguardada de riscos de perda excessivos, ou o risco de ruína.
Meu horizonte hoje considera um mundo em constante conflito (guerras, relações entre China e USA mais acirradas, volatilidade eleitorais e maior polarização etc.), com inflação mostrando resiliência e grande pressão sobre as dívidas dos países por conta dos juros que se manterão em patamares mais elevados (Japão e o JPY que o digam).
Dado esse cenário, se você está curioso para saber os ativos que considero interessantes para investimento vale ler meu texto recente sobre investimentos para 20 anos. Vale também dar uma passada de olhos nesse outro texto que escrevi em 2021 sobre o efeito que investir 1% do seu patrimônio em um ativo de altíssimo risco pode ter.
Acho que é isso, espero que esse texto te ajude a refletir sobre como tem investido e espero comentários abaixo para irmos aprendendo juntos!
Abcs,
Gustavo Cunha
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Axiomas de Zurique é um triturador de sardinha. Um dos meus maiores erros foi ler esse livro, no começo da minha jornada de investidor, e acreditar nessa história de 2 ou 3 ativos.