⛏️DEPIN, a narrativa que faltava para todos virarmos mineradores
A proliferação de infraestruturas descentralizadas agora tem uma narrativa única
Nos últimos anos cada vez mais tem me fascinado o quão poderosa pode ser uma narrativa e seus impactos na aceleração de novos modelos de negócio, comunidades e por consequência as mudanças que ela traz. E, recentemente tenho começado a esbarrar muito a narrativa de DEPIN, Decentralized Physical Infrastructure Networks, ou em tradução livre infraestrutura de redes física descentralizadas.
O conceito e iniciativas não é algo novo. Há mais de 2 anos, quando escrevi o texto: seremos todos mineradores, essa dinâmica de descentralização de infraestrutura estava lá e já demostravam seu poder de causar a disrupção de vários setores. A diferença hoje é que temos um guarda-chuvas, ou melhor, uma narrativa para encampar todas essas iniciativas: DEPIN.
Mas o que vem a ser DEPIN e quais seus possíveis impactos e desafios? E por que colocar isso dentro de uma narrativa ou uma sigla muda algo?
DEPIN representa um conceito onde a infraestrutura física, como sistemas de comunicação, data storage, processamento computacional, etc. é operada e gerida de maneira descentralizada. Este conceito contrasta com os modelos tradicionais de infraestrutura, que são tipicamente centralizados e controlados por poucas entidades ou autoridades.
Nas DEPIN, a ideia é distribuir a responsabilidade e o controle da infraestrutura física entre múltiplos atores, que podem ser indivíduos, comunidades, empresas ou até sistemas automatizados. Esta abordagem descentralizada oferece várias vantagens, tais como resiliência a falhas e ataque, ser mais eficiente e flexível, velocidade de implementação, governança descentralizada, entre outros.
Isso tudo requer um modelo de incentivos muito bem pensado e feito, já que a criação e manutenção dessa infraestrutura é feita de maneira descentralizada, através de incentivos e não centralizada e muitas vezes imposta pelo governo ou Estado.
O caso da Helium que tratei, é um caso emblemático nesse sentido. Eles conseguiram em menos de dois anos criar uma infraestrutura de comunicação de IOT mundial e que hoje está começando a migrar para uma rede de 5G, com o lançamento recente de um plano de celular nos USA que utiliza sua infraestrutura. Isso sem ter tido que investir praticamente nada em infraestrutura de telecomunicações. Todo investimento foi feito pelos usuários que compraram os equipamentos que são a base da infraestrutura da rede e que tem ganho tokens por conta de terem essa rede de pé e ganharão futuramente com o tráfego de dados dela.
Um outro exemplo é o da Filecoin, que pretende descentralizar o armazenamento e processamento de dados, ou Cloud, como chamamos. Esse mercado tem cheiro, cor e “sabor” de um mercado esperando para ser “atacado”. Quando digo atacado, quero dizer no sentido de que é um mercado que envolve muito dinheiro, é muito concentrado (AWS, Microsoft e Google detém mais de 65% desse mercado), e tem uma escala mundial. Três pontos que brilham os olhos de qualquer empreendedor.
No Brasil, a emergência de inúmeras Fintechs, em meados da década de 2010, foi exatamente em setores que cumpriam esses três pontos, os setores de crédito e meios de pagamento, e aqui vejo acontecendo algo semelhante, mas em uma magnitude global, descentralizada e que afeta diretamente gigantes de tecnologia. Tudo isso torna o jogo completamente diferente.
Dito isso, se tem um setor que, para mim, está na alça de mira de DEPIN é esse setor de processamento e guarda de dados na nuvem (Cloud). O tempo dirá se tenho razão ou não.
Bem, mas voltando ao ponto, o que tenho visto recentemente é que essa narrativa de descentralização de infraestrutura agora começa a ganhar corpo e se expandir muito. Ter um “nome” que engloba essas iniciativas torna o poder de alcance e conhecimento delas pelas pessoas muito maior. Já vimos isso em cripto com termos como DEFI e não só em cripto, o próprio termo Fintechs ajudou muito o crescimento e compreensão desse setor. À medida que colocamos essas iniciativas dentro de “caixinhas” fica mais fácil para entendermos o que elas fazem, qual seu impacto, como participamos, ampliando, dessa forma, do seu impacto.
Narrativas são parte da nossa necessidade humana de compreender o mundo ao nosso redor e no momento que temos ela colocada em um setor que tem cheiro de setor que está pronto para ser transformado, junta-se a fome com a vontade de comer.
Qual o maior entrave para a velocidade desse movimento? O primeiro para mim é regulação. Como o governo irá tributar as pessoas que estão gerando a rede para a infraestrutura de 5G da Helium? Quando será cobrado de impostos sobre os tokens que você receber por disponibilizar sua capacidade de processamento de dados que tem sobrando no seu computador? Isso só para pegar um aspecto dessa mudança que é o aspecto tributário. Temos também questões de cyber segurança, acesso a dados, resiliência da rede, concessões de infraestrutura que o Estado vendeu para iniciativa privada, entre outros que tem que ser analisados.
O setor de energia e telecomunicação, por exemplo, é um que tem uma regulamentação muito forte, o que pode tornar os desenvolvimentos de DEPIN mais lentos nesse setor. Diferentemente desses, o setor de cloud e processamento de dados é um setor com bem menos regulação. Isso para citar três setores onde tenho visto mais iniciativas de DEPIN sendo desenvolvidas.
Um ponto importante é que mesmo que a regulamentação seja capaz de atrasar esse movimento rumo a DEPIN me parece que isso é inevitável no médio e longo prazo. Pegue por exemplo a rede 5G. Tem que ter antenas muito perto umas das outras e fazer isso de maneira centralizada é caro, ineficiente e demorado. Faz muito mais sentido resolver isso de maneira descentralizada.
Um outro aspecto dessa narrativa é a rede que elas estão usando: A Solana. Após o debacle da FTX no final de 2022 essa rede ficou meio que moribunda por um tempo, mas nos últimos meses tem ressurgido das cinzas, com vários projetos sendo anunciados e muita movimentação de protocolos de DEPIN nela. Confesso que nunca a estudei muito a fundo e tenho um pouco da imagem dessa rede no seu começo, onde havia dias em que ela ficava fora do ar, mas com essa quantidade de iniciativas a utilizando, já vejo a necessidade de entender melhor seu funcionamento, vantagens e diferenças dela em relação ao que temos no ecossistema da Ethereum.
Além disso, para 2024, já começo a me organizar para voltar a estudar esse tema que é espetacular e que adorei quando interagi com Helium e algumas outras no final de 2020. Sempre vi grande potencial nessas iniciativas e com a colocação de uma narrativa e um nome (DEPIN) nelas, me parece que chegou a hora de serem implementadas e tirarem vários setores da zona de conforto.
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*Texto publicado originalmente na infomoney em 12.dez.2023
Bem interessante esse tema..a tokenização como forma de criação de valor para pequenas ações continuas..