As stablecoins lastreadas em dólar hoje reinam absolutas no universo dos criptoativos. Tokens como USDT e USDC movimentam bilhões de dólares diariamente e se tornaram infraestrutura básica para liquidez e negociação nos mercados digitais — representando mais de 99% da emissão e movimentação de stablecoins.
Já tratei disso em um texto recente, mas aqui quero ir mais a fundo na análise sobre por que a segunda maior moeda do mundo simplesmente não está representada nesse mercado. Minha tese é que o problema vai além da ausência de casos de uso ou da falta de interesse. O que temos, na verdade, são fatores estruturais na Europa que dificultam — e muito — o surgimento de uma stablecoin em euro robusta e relevante.
Vamos a eles.
A primeira barreira é estrutural: a Europa tem uma união monetária, mas não fiscal. O euro é uma moeda comum, mas cada país da zona do euro emite sua própria dívida, com risco soberano distinto. Um título público da Alemanha é tratado pelo mercado quase como um “ativo livre de risco”, enquanto um título da Grécia ou de Portugal carrega um risco muito maior. E isso levanta a pergunta fundamental: qual título público deve compor o lastro de uma stablecoin em euro?
Claro que isso é parcialmente mitigado quando tratamos de títulos de curtíssimo prazo. Mas aí entra a questão da custódia. Onde exatamente esses ativos estariam armazenados? Custodiar títulos em um banco português é muito diferente de fazê-lo sob a tutela do Banco Central da França ou em uma instituição financeira alemã. O tamanho e representatividade do setor financeiro de cada país difere bastante, isso sem entrar nas salvaguardas que os países tem e que não são exatamente as mesmas. Em uma arquitetura tão fragmentada, a definição de “ativo seguro” e “infraestrutura confiável” se torna bastante complexa.
Curiosamente, a regulamentação europeia, ao contrário do que muitos imaginam, não é o maior entrave. A MiCA (Markets in Crypto-Assets) entrou plenamente em vigor em 2024 e trouxe um marco regulatório claro para criptoativos. Ela distingue dois tipos principais de stablecoins — os tokens referenciados a ativos e os tokens de moeda eletrônica — e exige lastro integral, auditorias periódicas, custódia local e supervisão da Autoridade Bancária Europeia (EBA).
Na teoria, isso deveria impulsionar a criação de stablecoins mais confiáveis em euro. Mas na prática, os obstáculos estruturais continuam maiores que os regulatórios.
Um exemplo claro disso é o EURC, da Circle, stablecoin de euros emitida em conformidade com a MICA, sendo atualmente a maior stablecoin de euro no mercado, com aproximadamente $ 280 milhoes emitidos contra os mais de $ 180 bilhoes só do USDT. Embora a empresa publique relatórios de auditoria independente mensais afirmando que há paridade 1:1 com depósitos bancários, não informa em quais títulos são investidos esses valores e em quais bancos os fundos estão mantidos, nem em quais países (ao menos eu não encontrei). Essa opacidade certamente não ajuda.
Enquanto os EUA oferecem um ambiente financeiro centralizado, com um emissor único de dívida e uma infraestrutura sólida para custódia, a zona do euro ainda enfrenta o paradoxo da sua construção: uma moeda comum sem união fiscal plena. E esse desalinhamento cria fricções que tornam a emissão de stablecoins robustas em euro um desafio técnico, jurídico e operacional.
Em resumo, o euro deveria ter uma presença relevante no mundo das stablecoins. Mas a fragmentação entre política monetária centralizada e gestão fiscal descentralizada complica desde a escolha dos ativos até a definição de custódia segura. A MiCA ajuda, mas não resolve o nó central. Enquanto isso, o dólar americano — com sua simplicidade estrutural e profundidade de mercado — segue ganhando espaço nesse mercado e, talvez, quando tudo migrar para onchain, seja a moeda monopolista de tudo no mundo. Alias, muitos já apostam nesse cenário.
Abcs,
Gustavo Cunha
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