Quando o Banco Central do Brasil (BCB) anunciou que o Drex abandonará Blockchain, durante o Blockchain Rio, muita gente interpretou como um passo atrás, uma volta, um retrocesso. Mas, olhando com atenção, esse passo pode ser justamente o movimento que prepara o terreno para uma adoção mais sólida e ágil da tokenização no Brasil. Explico.
No seu início, questionei bastante — inclusive em uma entrevista que fiz com o Fabio Araujo, coordenador do projeto no BCB, lá no inicio do DREX, quando ele ainda se chamava Real Digital — por que o Drex não utilizaria uma rede pública de blockchain como Ethereum, Solana, Ripple ou tantas outras. O motivo estava no fato de essas redes não atenderem aos padrões de privacidade necessários. Todas elas operam dentro do que chamamos de pseudo-anonimato, ou seja, as transações não revelam diretamente quem está por trás de cada endereço, mas todo o histórico é totalmente visível e rastreável. Isso cria um paradoxo: qualquer pessoa com conhecimento técnico e as ferramentas adequadas consegue, cruzando dados, identificar o usuário. Para um sistema financeiro nacional, isso é inaceitável, pois expõe dados sensíveis e abre espaço para riscos como práticas ilegais de negociação — front running, por exemplo — além de riscos jurídicos e de segurança.
A solução que o piloto do DREX testou para resolver isso foi a de criação de uma rede exclusiva baseada em blockchain — tecnicamente, uma rede pública permissionada. Ela entregava parte da estrutura distribuída, mas com governança centralizada no próprio BCB. Com o tempo, a iniciativa passou a esbarrar no mesmo problema: como resolver a questão da privacidade e, ao mesmo tempo, manter a componibilidade que tanto favorece a tokenização? A fase mais recente do Drex focou justamente em buscar uma solução para isso. Diversas alternativas foram testadas e, embora algumas conseguissem cumprir os requisitos mínimos, todas demandavam de muito trabalho, desenvolvimento e adaptação. Em outras palavras: implementação custosa e demorada.
Curiosamente, o entrave aqui é exatamente o mesmo das redes públicas: a privacidade.
Foi esse o principal fator do abandono? Talvez sim, talvez não. É provável que a decisão tenha resultado de um conjunto de elementos: a mudança na presidência do BCB, discussões internas após o enorme hack recente, os custos potenciais de execução e manutenção dessa rede, e até o exemplo dos Estados Unidos, que optaram por não criar uma rede própria e, em vez disso, fornecer o arcabouço legal para que a iniciativa privada acelerasse a tokenização.
Mas é preciso reconhecer um ponto fundamental: sem o empurrão que o BCB deu nessa agenda desde nos últimos anos, o Brasil estaria bem atrás nessa discussão. Foi a postura proativa do Banco Central que colocou a tokenização no radar do setor financeiro e estimulou bancos, fintechs e startups a investirem tempo e recursos nesse campo.
Agora, ao abandonar a ideia de criar uma Blockchain para chamar de sua, o BCB passa a direcionar esforços para o que realmente importa no curto prazo: funcionalidades. Isso significa criar regras e padrões para que a iniciativa privada desenvolva soluções de tokenização, stablecoins e instrumentos financeiros digitais — sem precisar “reinventar” toda a infraestrutura de liquidação, que já é robusta, segura e amplamente testada.
E aqui está outro ponto importante. Acredito que estamos caminhando para uma nova fase da internet baseada em redes públicas não permissionadas como base para o que chamamos de Web3. É um caminho inevitável, mas que ainda enfrenta alguns entraves, privacidade sendo um deles, para integração massiva com sistemas tradicionais. Resolver o problema do pseudo-anonimato nessas redes é uma discussão constante. Tecnologias como zero-knowledge proofs e criptografia homomórfica estão avançando e, no seu devido tempo, poderão permitir transações públicas com total privacidade. Quando isso acontecer, o Drex poderá migrar diretamente para uma rede pública, aproveitando interoperabilidade global, liquidez ampliada e a inovação contínua do ecossistema aberto.
Nesse contexto, dado que ambas as redes acabam tendo o mesmo gargalo, faz muito mais sentido deixar a iniciativa privada investir agora em camadas de aplicação e integração do que o BCB investir em uma infraestrutura intermediária que, no futuro, poderá ser descartada. É como se o BCB estivesse evitando construir uma estrada provisória que logo será substituída por uma linha de trem de alta velocidade: melhor gastar energia e recursos preparando a chegada do trem — e definindo quais e quantos vagões ele terá.
Portanto, vejo a mudança de foco do Drex com bons olhos. O BCB volta a concentrar esforços no incentivo e na criação de um ambiente propício à proliferação de iniciativas privadas de tokenização no Brasil. Esse pode ser o movimento que garantirá que, quando as redes públicas finalmente resolverem o problema do pseudo-anonimato, estejamos prontos para dar um salto direto para a próxima geração da infraestrutura financeira.
Até lá, o objetivo é claro e pragmático: fazer a tokenização acontecer no dia a dia. A partir de agora, essa passa a ser, mais do que nunca, a meta de todos os agentes envolvidos em projetos de stablecoins e tokenização no país. Cabe a nós acelerar essa agenda e transformar potencial em realidade.
Abraços,
Gustavo Cunha
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