Recentemente escrevi um texto sobre o fato de podermos já ser imortais, e não termos percebido, e dessa reflexão surge essa outra que se refere ao Eu digital que será criado com base nos dados que geramos online. Se a inteligência artificial (AI) vai mesmo nos recriar no futuro com base nos dados que geramos sobre nós, que “eu” ela criará? Será a somatória de tudo que geramos uma boa base para saber quem somos? Segue o fio...
Bem, aqui acho que temos que separar duas formas de dados que geramos. Os dados gerados por nós nas mídias sociais, e os dados gerados de outras formas. Por que essa distinção? Porque os dados que geramos nas mídias sociais são claramente viesados. Todos sempre estão felizes, viajando, trabalhando, se divertindo e tendo enorme sucesso. Poucos são os dados que geramos lá de situações difíceis e momentos de tristeza. Não cabe aqui julgarmos os algoritmos ou o porquê desse comportamento humano, mas a verdade é que é assim. Se o nosso “eu digital” for só baseado nisso seria um problema enorme, pois ele seria cheio de certezas, momentos felizes e convívios em grupo, e todos sabemos que nossas vidas são bem mais complexas do que isso.
Daí entram os dados que geramos de outra forma. Dados referentes ao nosso movimento durante o dia, ao tempo que estamos dormindo e acordados, fazendo esportes ou parados, visitando museus e outras cidades, e por aí vai. Tudo captado hoje, na maioria dos casos, por nossos celulares. Tem os dados também das nossas reuniões online gravadas (ou não), das nossas conversas telefônicas com amigos e nossos filhos, dos e-mails que mandamos, das nossas interações com o ChatGPT e outros sistemas de inteligência artificial e por aí vai. Na maioria desses casos esses dados tendem a ser menos viesados e melhores reflexos do nosso real “eu digital” pelo simples fato de não passar pelos nossos filtros propositadamente antes de os colocarmos online.
Essa dicotomia entre esses dois tipos de dados acredito será uma das grandes dificuldades que teremos no futuro para criar os nossos “eu digitais” reais. Como julgar qual o certo? Qual é real? A grande verdade é que ambos são reais e são parte da nossa complexidade de sermos humanos e únicos.
Nessa salada e dados usar nossa voz, forma de escrever e até um certo sarcasmo que alguns de nós tem me parece ser uma parte mais fácil de ser reproduzida. A dificuldade está em replicar toda a ambiguidade que carregamos conosco. A capacidade de aprender, ensinar e porque não dizer, desaprender. Isso não me parece trivial para os sistemas que usam AI e aí nasce a dificuldade de nos replicar para sempre.
Um outro ponto interessante está na longevidade desse Eu digital. Se é para vivermos eternamente, como o Gustavo de hoje se atualizará? Será ele em 200 anos o mesmo de hoje? Como ele seguirá aprendendo? O que lhe interessará? Que dados ele gerará quando já for somente seu software? Pegando um exemplo, se quisermos replicar uma figura importante de hoje, digamos o Elon Musk, como ele seguirá se desenvolvendo e mudando após o Elon Musk de carne e osso que conhecemos hoje não estiver mais por aqui? Continuará o sistema gerando dados como se fosse ele e se autoalimentando? Nos evoluímos muito durante nossa vida na terra, digamos nos 100 anos em que vivemos e como seguirá isso?
Bem, o que tiro dessa reflexão, é que nos replicar para frente depende não só da capacidade de ter os dados corretos e saber como lidar com nossas complexidades, mas também de como continuaremos a evoluir com o passar das décadas/séculos. E aqui, como estamos falando de prazos longos, pequenos erros iniciais podem levar a erros gigantes no futuro.
E você? O que acha disso? Já temos dados hoje para nos replicar digitalmente? E como seguiremos aprendendo após não estarmos fisicamente mais nesse mundo?
Comente abaixo e me diga o que acha.
Abcs,
Gustavo Cunha
Seguimos em contato nos links abaixo:
FinTrender.com, YouTube, LinkedIn, Instagram, Twitter, Facebook e podcast FinTrender