Em um texto recente escrevi sobre como minha estratégia de investimentos mudou ao longo dos meus 30 anos como investidor e aqui quero tratar de um outro angulo dessa discussão: o erro de não ter capital de risco ou muito pouco nele. Vamos a ela.
O primeiro ponto é que não ter um pedaço dos seus investimentos em algum ativo de altíssimo risco é um risco enorme. Explico! E vou pegar cripto como um exemplo.
A assimetria de preços e informações em mercados ainda em formação são imensas, o que se traduz, em geral, em preços bastante diferentes do real valor do ativo. Cripto foi, e ainda é assim. O bitcoin (btc), em termos de preço em dólares pode ainda subir muito. São poucos os cenários onde se consegue prever um grande colapso no preço desse ativo. Ele é hoje a rede mais estável do mundo, com um uptime de 99.989% desde que começou em 2009, sendo que o último incidente aconteceu há mais de 10 anos! Nenhuma outra rede, privada ou publica, consegue chegar perto. A razão para isso está na sua descentralização e nos corretos incentivos para manterem a rede de pé e operacional. Além disso, ele é um ativo escasso com emissão decrescente nos próximos anos, sendo que mais de 93.8% do total de 21 milhões de btcs já foram emitidos.
Estamos falando aqui de uma mudança de paradigma, o de termos uma rede computacional de valor acessível a todos. Isso mesmo. Bitcoin, não é somente um token, criptomoeda, criptoativo, ou seja, lá como você quiser chamá-lo. Ele é também uma infraestrutura de rede para troca de valores no campo virtual. Com o mundo virtual tendo cada vez maior participação na nossa vida, ter uma rede para troca de valores é o rumo que certamente seguiremos.
Não é à toa que temos os principais Bancos Centrais, e governos, do mundo fazendo testes com essa tecnologia para se utilizar dessas vantagens. Fatores como as regras vigentes atuais, privacidade e componibilidade estão no cerne das discussões mundiais sobre a incorporação pelos Estados dessa tecnologia, e estão hoje entre os principais gargalos para sua adoção por eles.
Todos estão hoje estudando uma forma de fazer sua “intranet” com base na mesma tecnologia do Bitcoin (blockchain ou DLT para colocar nome nela). E o mundo descentralizado das redes não-permissionárias (representadas principalmente pelas redes Bitcoin e Ethereum, mas não só) em paralelo tentando resolver seus problemas de escalabilidade e privacidade.
O que vejo é que assim que as redes não-permissionárias resolverem esses problemas, e que acredito que não esteja longe, poderemos ter uma rede (ou redes) que farão a interoperabilidade de todas as redes permissionárias construídas pelos Estados.
Foi assim com a internet. Primeiro todos desenvolveram suas intranets (redes que eram fechadas dentro de determinados ambientes – governos, corporações etc.) e, em um determinado momento, essas redes se conectaram a inúmeras outras pelo que hoje chamamos de internet. E aqui vejo um caminho similar que está sendo trilhado.
A grande diferença desse fenômeno atual e o da época da internet, é que esse, liderado pelas blockchains não-permissionárias, tem tokens nativos das redes. Internet não tem mecanismo de pagamento interno, não tem como transferir dinheiro (ou tokens representativos desse), a não ser por soluções acopladas a ela, e que não são nativas. A rede Visa é talvez o melhor exemplo. Simplisticamente vendo, ela é uma intranet que se usa da internet para se conectar com o mundo, mas tudo fica guardado em um lugar privado e fora da internet.
O fato de termos esses tokens nativos muda muito a dinâmica e aqui volto para o ponto de investimentos. Esses tokens nos permitem participar dessa transformação e navegar nesse mundo rumo a essa transformação.
Um dos cenários possíveis é o de que a rede do Bitcoin, por conta da sua história, resiliência e seguranças, seja a pedra fundamental dessa nova internet de valores que está se formando. Quanto valeria hoje uma “ação” da internet se ela existisse e você pudesse tê-la comprado há 20 anos atras? Não valeria o risco de comprar um % pequeno do seu patrimônio nisso? Pois é, essa é a pergunta que você, o gestor de fundos, o administrador do fundo de pensão e os bilionários do mundo estão se fazendo. E depois da vinda do ETF de bitcoin nos USA, e do ETF de Ethereum que parece estar próximo, as questões de custódia e operacionalização estão resolvidas. É só alocarem um pedaço do dinheiro no ETF, que é um veículo que todos já usam, e acabou. Está resolvido.
Vale uma ressalva aqui sobre o porquê coloquei a palavra ação entre aspas e isso vem do fato dos tokens nativos não serem exatamente ações no conceito que usamos hoje no mercado financeiro. Eles têm características que se assemelham a ações, mas também tem valor de uso nas redes entre outros aspectos, que os tornam difícil de enquadrá-los nos conceitos restritos atuais do mercado financeiro.
Alguns outros pontos que acho importante ressaltar nessa questão:
1- Estamos em um mundo claramente inflacionário do ponto de vista de preços de ativos. Enormes emissões monetárias, dívidas dos países enormes, época de juros baixos ficou para trás, guerras, hegemonia americana em risco, entre outros argumentos que reforçam que a inflação de ativos deve continuar presente na próxima década.
2- Estamos em um mundo de exponencialização de inúmeras tecnologias. Foquei aqui em Blockchain, mas se olharmos para outras não é diferente. AI está voando. Robótica, genética… toda semana, para não dizer todo dia, vemos inovações que nos surpreendem
3- Não há forma melhor de perceber essas mudanças que descrevi aqui que a de colocar a mao na massa e investir algo nesse mercado. ETFs ajudam e são importantes mas o grande potencial disso está na infra-estrtura que esta sendo criada e ir la testar e acompanhar te ajudará e muito a ver o mundo de outra forma
4- Em termos de investimentos temos que alargar os horizontes e sair dos investimentos de curto prazo / alavancados. O que fez o James Simon e o Warren Buffet ficarem bilionários foi terem rendimentos superiores a 25% aa por vários anos. Juros sobre juros! Rendimento exponencial! Por isso vale pensarmos em estratégias de anos.
5- Percentuais de investimento. Dado que estamos falando de investimentos de muita volatilidade (risco) não dá para ir DeGen aqui. Percentuais pequenos e que não comprometam o seu estilo de vida num prazo de 1 ano ao menos é o que acho plausível.
Acho que é isso. Espero ter trazido argumentos para que você pense e possivelmente reveja seus investimentos e não fique de fora desse mundo que todos nos estamos construindo e seria justo que todos pudessem colher os frutos financeiros disso também. Só ganha quem se expõe e para mim aqui temos um caso de um setor que tem uma assimetria importante, ou seja, que tem muito mais chance de fazer parte integral das nossas vidas em 20 anos do que deixar de existir nesse período. Você realmente acha que deveria ter zero risco nisso?
Abcs,
Gustavo Cunha
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Bom texto, como sempre, mas acho que faltou uma parte no fim.