🔍 Stablecoins são mesmo melhores que CBDCs?
Uma análise sobre privacidade, controle e o futuro do dinheiro
Quem me acompanha sabe que sou do time que acredita que tudo será cada vez mais digital — e, mais do que isso, tokenizado. E o dinheiro será o primeiro grande ativo a passar por essa transformação, como já defendi no meu livro sobre o tema.
Mas sempre que essa conversa surge, especialmente entre os pares do universo cripto, o debate invariavelmente se volta à liberdade e privacidade. E é sobre isso que quero compartilhar algumas reflexões aqui.
Liberdade total? Utopia.
Vamos direto ao ponto: liberdade total é uma ilusão. No mundo real, o que discutimos é o grau de acesso que governos, instituições, empresas (ou até indivíduos) têm sobre os nossos dados — em especial os financeiros, mas não apenas.
E quando o assunto é dinheiro, precisamos separar as funções que ele exerce.
Dinheiro como meio de pagamento
Aqui falamos da função transacional: comprar e vender. O papel-moeda, nesse contexto, é um instrumento irrestrito. Quem tem a nota, troca pelo que quiser — inclusive bens ilegais, em determinadas jurisdições (armas, drogas, etc.). Não deixa rastro, não tem “dono”. É o dinheiro da cueca, da mala — e temos muitos exemplos no Brasil.
Só que esse tipo de uso está em declínio acelerado. O mundo é digital, e o papel, nesse contexto, é um problema: difícil de usar em transações internacionais, alto risco de roubo, desconforto em grandes valores... Quem hoje se sentiria à vontade recebendo malas de dinheiro na venda de um imóvel ou uma fazenda?
Não acho que ele vá “morrer”, mas vai virar o novo cheque — já foi protagonista, hoje tem um uso muito restrito.
O avanço inevitável: do digital ao tokenizado
Estamos vivendo a transição:
📍 Hoje já usamos o dinheiro digital – aquele que está no banco e movimentamos via Pix, cartões e afins.
📍 O próximo passo é o dinheiro tokenizado — e aí entram as Stablecoins e as CBDCs.
É nesse ponto que a coisa fica interessante.
O medo do controle total
Stablecoins e CBDCs trazem algo que tira o sono dos libertários: o potencial de rastreamento e controle total do emissor. Direcionamento de uso, geofencing, congelamento e cancelamento de tokens são possibilidades reais — e vêm sendo testadas.
Por isso, as CBDCs se tornaram sinônimo de vigilância. Trump já até anunciou que os EUA não terão uma sob seu mandato.
Mas ironicamente, os EUA têm o dólar — a moeda mais importante do mundo — mas uma infraestrutura de pagamentos muito aquém do ideal. Tente fazer um pagamento instantâneo por lá… 🙄
A grande contradição: e as Stablecoins?
Os EUA decidiram que não seguirão com uma CBDC para pagamentos, apostando em stablecoins como USDC e USDT. E aqui surge a pergunta inevitável:
👉 Se criticamos o controle de uma CBDC, por que não aplicamos a mesma crítica às stablecoins?
Tanto o USDC quanto o USDT têm, em seu código, funções de congelamento e cancelamento. Ou seja, também podem restringir ou bloquear transações, exatamente como faria um banco central com uma CBDC.
A diferença? Existe um intermediário privado, que funciona como um banco tradicional. E esses emissores, apesar de não serem bancos formalmente, estão cada vez mais sujeitos à regulação.
A Europa já deu o passo com o MiCA, e os EUA estão seguindo a mesma trilha.
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Controle direto ou indireto? Eis a questão.
Com stablecoins reguladas, governos continuarão tendo controle, seja por meio de ordens judiciais, seja via supervisão regulatória.
A diferença entre uma CBDC e uma stablecoin está no modelo de governança:
🔹 Na CBDC de varejo (que, sinceramente, não vejo como um caminho prático), o Banco Central teria o controle direto sobre os tokens.
🔹 No modelo de stablecoins ou tokenização de depósitos (como é o caso do Drex no Brasil), o controle segue o modelo atual: indireto, via instituições financeiras.
Privacidade, rastreabilidade e reserva de valor
Mesmo saindo da função de meio de pagamento e indo para a de reserva de valor, não vejo grandes mudanças em relação ao que já temos. O dinheiro da maioria das pessoas está em bancos, fundos, ações, imóveis — tudo rastreável e sujeito à regulação.
E se for converter qualquer desses ativos em dinheiro para transação, o caminho será digital e rastreável. Ou seja, o sonho da soberania financeira total está, para quase todos, fora do alcance prático.
A questão central: governança e infraestrutura
A discussão relevante não é apenas sobre quem emite o token, mas onde ele circula.
As stablecoins hoje trafegam em redes públicas e não permissionárias como Ethereum. Já as CBDCs tendem a operar em redes privadas, permissionadas, sob controle direto dos governos.
Essa infraestrutura é o verdadeiro campo de batalha. Teremos um “dinheiro digital soberano” circulando em redes abertas, interoperáveis? Ou vamos aceitar um sistema onde o acesso é limitado, monitorado e centralizado?
Fecho com três provocações:
Por que stablecoins, que têm capacidades técnicas similares às CBDCs, não despertam a mesma reação negativa?
Caminharemos para uma separação clara entre reserva de valor e meio de pagamento?
Teremos uma "Finternet" pública, aberta e descentralizada — ou seguiremos em redes permissionadas e controladas?
Abraços,
Gustavo Cunha
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Bons pontos, só que nos ultimos anos temos assistido a democracias ocidentais com "toques" de governos autocráticos, na liberdade de circulação por pandemia, no congelamento de contas se protestas contra o status quo, o debanking se desenvolves na indústria cripto. Tudo isto aconteceu e ja foi possivel nas condições atuais, é obvio ja nao grande privacidade e maior das pessoas estasse a borrifar prefere a comodidade. A regras bancarias AML que visam a corrupção das malas de dinheiro ja nos tiraram muita privacidade, por raio nao posso vender um carro velho e receber 3100€ em cash sem violar a lei. O dinheiro fisico cada vez é menos usado, mas ainda assim saber que o posso usar permite-me usa-lo sem que preste contas a alguem. Por que razao é bom centralizar ainda mais a ferramenta que toda precisar para transaccionar e abdicar totalmente da pouca liberdade e privacidade que ja temos. Hoje se não gosto do Novobanco vou para o BPI, ou posso trabalhar com o Montepio é uma associação mutualista, há concorrência. Os bancos centrais sao monopólios.
A questão das CBCDs vs stablecoins é idêntica, as stablecoins sao privadas e têm concorrência, as redes blockchain em que operam é um ponto muito pertinente, duvido que sejam protocolos opensource, ainda assim entre ter USDC ou USD prefiro o último que é protegido pelo maior exército do mundo. Por falar em exercito ao centralizar que detem o poder de coerção?
Tomara que o futuro seja mesmo uma Finternet descentralizada que prevaleça.