🌍 Stablecoins Tomaram o Sul Global — E Isso É Só o Começo
O dinheiro foi primeiro. Agora vem todo o resto
2025 marca o ponto de virada em que as stablecoins deixaram de ser um nicho cripto para se tornarem parte da infraestrutura monetária global. Desde as conversas no European Blockchain Convention — onde estive na semana passada — até papers acadêmicos, buscas no Google e (sem modéstia ☺️) meus próprios artigos, o assunto explodiu. E com razão: num mundo em que moedas fracas convivem com barreiras ao dólar e sistemas financeiros ineficientes, milhões no Sul Global — onde o nosso Brasil se inclui — estão adotando stablecoins como forma de proteção patrimonial e meio de troca com países de moedas fortes. O avanço regulatório nos EUA apenas acelerou um movimento que já era inevitável.
E essa demanda não é especulativa. É estrutural. No Brasil, stablecoins já representam mais de 90% do volume cripto movimentado, segundo o Brazil Tokenization Report 2025, recém-publicado pela Nexa em parceria com a Fintrender.
O USDT se consolidou como o “dólar digital” da economia brasileira. Mas não está sozinho. Stablecoins de Real como BRZ, BRL1, BBRL e a recém-lançada Crown também vêm conquistando espaço relevante. No mundo corporativo, tesourarias e fundos vêm adotando stablecoins como instrumento de liquidez, hedge e precificação. Com mais de US$ 3,5 trilhões movimentados por mês globalmente, o modelo se mostrou funcional, eficiente e escalável.
Vejo esse avanço como mais do que uma inovação tecnológica: é o início da migração de toda a arquitetura do sistema financeiro para um novo desenho baseado em Blockchain. A tokenização do dinheiro não é o ponto final — é, na verdade, o ponto de partida. Com dinheiro nativo em rede, abre-se a porta para tokenizar o restante da economia: crédito, ações, imóveis, fundos, royalties, commodities. Os chamados Real World Assets (RWAs) são a nova fronteira.
A lógica é histórica. Em todo ciclo de evolução dos mercados, o dinheiro sempre vem antes. Foi assim com os bancos, com os cartões, com a digitalização. Agora, é a vez das stablecoins — que viabilizam um novo modelo de infraestrutura financeira, com liquidação instantânea, custódia descentralizada e interoperabilidade global. Quando a camada monetária muda, todo o resto se adapta. É essa a tese que desenvolvi no livro A Tokenização do Dinheiro.
E os ativos estão vindo. A tokenização de RWAs já superou US$ 30 bilhões em volume global, e exemplos concretos se multiplicam. No Brasil, já ultrapassamos R$ 1,0 bilhão em ativos tokenizados, com casos como o da VERT — que emitiu R$ 700 milhões em CRA via XRPL —, da Amfi — que acumula mais de R$ 1,0 bilhão —, e da Netscapes, que já leva sua solução de tokenização imobiliária a mais de 200 cidades no país. São produtos reais, com capital real, em produção.
E esse movimento vem dos dois lados. O que escrevi no artigo “TradFi copia cripto, cripto copia TradFi” está se impondo como realidade a uma velocidade estonteante: instituições tradicionais estão adotando estruturas originalmente cripto — como stablecoins, redes públicas e liquidação 24/7 — enquanto o ecossistema cripto incorpora práticas de governança, compliance e relacionamento institucional típicas da velha guarda financeira. Não estamos mais falando de convergência como futuro. Estamos vivendo, em tempo real, a fusão dos dois mundos. Não à toa, o tema central do Brazil Tokenization Report deste ano foi justamente o momento da convergência.
As stablecoins estão se firmando como a camada zero dessa transformação: estabilizando o meio de troca e abrindo espaço para a liquidez global. Os RWAs são a camada seguinte: ativos negociáveis 24/7, com rendimentos automáticos e compliance embutido por design. Tudo isso dentro de uma estrutura que permite fracionamento, acesso global e interoperabilidade. Estamos diante de um novo paradigma de mercado: transparente, contínuo, programável.
Claro que os desafios persistem. O principal deles é regulatório. O Brasil ainda carece de um marco legal específico para tokenização, e as atribuições entre CVM e Banco Central seguem sobrepostas.
Aqui cabe um parêntese. Nesta semana, durante um evento presencial promovido por um dos maiores escritórios de advocacia de São Paulo — com presença de representantes da área de regulação do Banco Central — surgiu uma pergunta que ilustra bem os dilemas do nosso tempo: a exigência de que as VASPs (prestadoras de serviços de ativos virtuais) possuam um endereço físico no Brasil. E mais: se esse endereço poderia, por exemplo, ser em um co-working. O tema, aparentemente trivial, consumiu mais de 15 minutos de discussão no painel. Isso dá uma dimensão do tamanho do desafio ao tentarmos aplicar estruturas regulatórias tradicionais – e locais - a um setor que, por natureza, opera em um ambiente nativamente global e descentralizado. A questão da “localização” jurídica de empresas que nascem sem fronteiras ainda está longe de uma solução definitiva.
Outro gargalo é a experiência do usuário. Negociar RWAs ainda exige conhecimento técnico, o que limita o alcance da inovação. Mas essas barreiras estão caindo rapidamente. Interfaces mais intuitivas, padrões abertos e maior clareza regulatória estão criando o ambiente para a próxima onda de adoção.
O Brazil Tokenization Report é claro ao afirmar: stablecoins são a killer app que abriu o mercado. Mas os RWAs são o verdadeiro “iPhone moment” da tokenização. Ou, como falavamos nas discussões de elaboração do report: se stablecoins são a criação do celular, os RWAs são a invenção do iPhone.
Com o dinheiro onchain (tokenizado) já resolvido, o mercado começa a transformar crédito, ações, fundos, imóveis, precatórios e commodities em instrumentos digitais nativos, interoperáveis e globais – tokenizados, se preferir. O futuro está sendo escrito agora — e o Brasil está na fronteira desse movimento.
A convergência entre TradFi e cripto não é mais tese. É realidade operacional.
O dinheiro está tokenizado.
E quando o dinheiro muda, tudo muda.
Discorda?
Abcs,
Gustavo Cunha
* Artigo publicado originalmente na minha coluna do Valor Investe em 23 de outubro de 2025
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Há cerca de cinco anos, falar sobre o mundo cripto era empolgante - cheio de ideias ousadas, criativas e genuinamente disruptivas.
Hoje, a conversa perdeu brilho: a grande “inovação” se resume basicamente a stableicoins e tokenização. E o principal desafio? o regulatório- ironicamente, justamente aquilo que o cripto nasceu para desafiar.
É muito pouco.
E no fim das contas, parece que o pessoal da tecnologia está cedendo espaço demais aos financistas - e o espírito inovador está ficando pelo caminho.