🕸️Indo da WEB2 para WEB3
Desafios, complexidades e pontos de atenção na criação da WEB3
Uma das promessas dessa nova fase da internet é a de que voltaremos aos primórdios dela no que tange ao controle e possibilidade de criarmos um ambiente totalmente inclusivo e aberto para inovações. A WEB3, como muito chamam. Mas será isso mesmo possível ou é mais uma elucubração de um grupo libertário do mundo? Vamos aos pontos!
WEB3 é a sigla que define essa nova fase da internet. De maneira geral tínhamos a WEB1, onde podíamos acessar informação e “ler” tudo (todos os buscadores são um bom exemplo dessa fase), a WEB2 onde, além de ler, podíamos produzir (podcasts, mídias sociais, youtube são desta fase), e o que está se formando agora é a WEB3 onde, além de ler e produzir, poderemos ser donos do que produzimos.
Muitos colocam a WEB3 como uma volta ao início da internet, um sistema onde a liberdade e criatividade eram alicerces importantes e tudo e todos podiam navegar, produzir, desenvolver. Um momento mágico e que com o passar dos anos foi se transformando em um sistema concentrando. Seja por facilidade de financiamento, modelo de governança, ou alinhamento de discussões e desenvolvedores, na fase atual da internet, iniciativas e desenvolvimentos tem uma centralização enorme.
Os grandes exemplos são as próprias empresas de tecnologia que foram criadas nesse período. Como organizar e distribuir vídeos sem passar pelo Youtube? Como se comunicar com os outros, amigos ou parceiro comerciais, sem utilizar algum produto da Meta? Como aumentar sua produtividade sem acessar algum produto da OpenAI? A WEB2 está repleta de “cercadinhos” e cada um com sua regra.
O que a WEB3 se propõe é “quebrar” esses cercadinhos e aí temos que trabalhar em vários aspectos onde a WEB2 centralizou.
Um deles é própria infraestrutura. E aqui entra DEPIN. Como tirar esse “cercadinho” das grandes empresas se não tivermos uma forma de processar e armazenar dados descentralizada? Se não tivermos acesso à internet de maneira descentralizada? Várias iniciativas estão andando nesse sentido e tratei delas aqui.
Outro aspecto é a nossa identidade digital. Como provar que somos nós mesmos e não robôs ou, em tempos de inteligência artificial, como provar que somos humanos e nós mesmos? Iniciativas como a da Worldcoin do Sam Altman, CEO da OpenAI, tentam endereçar isso. Mas não é a única e para ser preciso, ela nem se enquadraria muito nos conceitos de WEB3 dado que recorre a centralização para fazê-lo.
Ponto importante nessa discussão é a forma como as decisões dessas estruturas estão sendo tomadas. A forma mais usual de governança é via uma DAO (decentralized autonomous organization) e isso implica em várias discussões complexas que envolvem: representatividade (forma de voto e quem define o que), implementação/operacionalizacao e adequação às regulamentações mundiais.
Se tem uma coisa que está clara para todos é que a base dessa nova internet será Blockchain. Não há tecnologia atualmente melhor para que possamos fazer essa descentralização e a ponte entre WEB2 e WEB3.
Para se ter uma ideia, o modelo clássico de negócio das estruturas de DEPIN, se posso chamar de clássico uma coisa de menos de 5 anos! 😉, envolve um agente prover um serviço, que pode ser: abrir o hotspot do seu celular para compartilhar sua internet, ceder uma parte do HD do seu computador para que armazenem dados, medir o barulho de certa localização ou inúmeros outros, em troca de um token da iniciativa. O empreendedor diz o que quer e define o incentivo e as pessoas fazer o “trabalho” para ele. Se o incentivo estiver bem alinhado é sucesso na certa. Foi assim com Helium e está sendo assim com várias dessas novas iniciativas de DEPIN.
Após um certo tempo o incentivo (regras para distribuição dos tokens), passar a ser mais voltadas à utilização dos dados e da rede construída do que a constituição da rede em si. Primeiro se faz a infraestrutura e depois é hora de usá-la. Obvio que essas duas fases não são separadas totalmente e não é só depois que acaba uma que começa a outra. As duas andam em paralelo e requerem seus incentivos, mas no início os incentivos para a construção da rede são claramente maiores. Em todos esses casos de DEPIN o modelo de incentivo recorre ou à emissão de um token em uma rede de Blockchain, ou a um modelo de pontos que tem implícito a ideia de que esses pontos serão convertidos em tokens em algum momento do futuro. Tudo “powered by blockchain”.
Esse exemplo de DEPIN demonstra claramente o poder que Blockchain tem para descentralizar iniciativas, visto que aqui estamos falando de um setor que requer infraestrutura física (telecomunicações, internet, mapeamento de som e ruas, processamento de dados, nuvem etc.) e que, ao mesmo tempo em que são os mais fáceis de visualizarmos, são também os mais difíceis de serem implementados por conta não só dos aparatos físicos, mas também por vários desses setores serem amplamente regulados.
Voltando a WEB3, outro alicerce importante da usa composição é a organização de carteiras de maneira a que possamos todos ter o benefício da propriedade. O que o DNS fez na internet, que transformou o 172.253.116.101 em www.google.com, por exemplo. Esse foi um passo relativamente simples, mas que foi primordial para a popularização da internet. No caso de WEB3, iniciativas para isso já exitem, sendo a ENS a principal, e recentemente a uniswap encampou uma iniciativa nesse sentido tb, mas isso ainda está longe de se tornar popular.
Como Blockchain e suas carteiras se tornarão popular se toda vez tivermos que dar a sopa de letrinha da nossa carteira para toda interação que necessitarmos? E vou além, algumas soluções que envolvem Account Abstraction resolvem uma parte do problema (pagamento das fees de transação por exemplo) mas acabam criando, muitas vezes sem o usuário saber, contas na Blockchain para eles e dessa forma criando novos “cercadinhos” ou colocando uma complexidade na gestão pessoal de cada uma dessa carteiras.
Bem, acho que vou parar por aqui hoje. Muitos temas e acabei abrindo várias frentes que possivelmente vão requerer mais detalhes e algumas outras que talvez tenham passado batido nesse caminho. Se esqueci algo que ache importante e/ou quiser entender mais sobre algum dos temas acima é só colocar nos comentários.
Por fim, mas não menos importante, um pedaço considerável dessa discussão que trouxe acima foi fruto da leitura do livro do Chris Dixon (Read Write Own) que comecei essa semana. Ainda estou no início, li menos de 20% do livro, mas já posso dizer que é um livro que faz muito sentido todos lerem.
Abraços,
Gustavo Cunha
Seguimos em contato nos links abaixo:
FinTrender.com, YouTube, LinkedIn, Instagram, Twitter, Facebook e podcast FinTrender
Comecei a estudar Depin em Out/23 e tenho aprendido muito com suas análises Gustavo. Muito obrigado!